LISBOA E SUL
1. Júlia Ventura 1875-1983 Lisboa
Uma visão da produção inédita de um artista consagrado? É proposta que pede uma, duas ou mais visitas. Júlia Ventura é um caso singular na arte nacional, que, tal como Helena Almeida, explorou exaustivamente a autorrepresentação como questionamento das possibilidades fotográficas, e das expectativas associadas ao corpo feminino. A plasticidade física, o repertório de expressões e de tiques faciais, as poses e atitudes são a matéria-prima preferencial. A curadoria de Bruno Marchand privilegiou os primeiros oito anos de produção, cerca de 20 séries de trabalho: fotografias, desenho, vídeo, texto e instalação, a maioria inédita. Culturgest > R. Arco do Cego, 50 > T. 21 790 5155 > até 29 set, ter-dom 11h-18h > €5
2. Nosso Barco Tambor Terra Lisboa
A poderosa escultura entrelaçada em crochet e algodão quotidiano imobilizada na nave central do MAAT é uma das maiores obras realizadas por Ernesto Neto, o sábio das peças orgânicas que suscitam respostas primitivas. Nosso Barco Tambor Terra tem ambição de memorial simbólico a culturas cruzadas, a velas dos barcos a partir para os ainda chamados Descobrimentos. À maneira de uma criatura ancestral, possui respiração: a escultura é “ativada” pelo som de tambores e batuques, escondidos entre os pilares têxteis, à disposição do público. Uma escolha que reflete o interesse recente do artista brasileiro na percussão e a sua defesa da “arte contemporosa”, tátil e em contacto com a Natureza. MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia > Av. Brasília, Belém > T. 21 002 8130 > até 7 out, qua-seg 10h-19h > €8 a €11
3. Evidence: Soundwalk Collective & Patti Smith Lisboa
Diário pessoal, arquivo sonoro, moodboard, homenagem, registo de viagem, experiência documental? Todas estas ferramentas são exploradas em Evidence, exposição imersiva construída com imagens abstratas, fotografias, desenhos de Patti Smith, objets trouvés, mais de 500 sons (audíveis nos auscultadores incluídos na visita), e onde se arruma até a mesa de viagem de Mário Cesariny. Apresentada no Centre Pompidou, aqui reformulada, a mostra site-specific com curadoria de Chloé Siganos e Jean-Max Colard, ilustra a viagem – musical, poética e espiritual – empreendida pela cantora americana e pelo músico francês Stephan Crasneanscki entre 2017 e 2021, no âmbito da colaboração resultante no trio de álbuns Perfect Vision. E foi a sombra tutelar dos poetas Artaud, Rimbaud e René Daumal que os guiou na peregrinação sonora pela serra Tarahumara, no México, o planalto abissínio da Etiópia e os Himalaias indianos. MAC/CCB > Pç. do Império > T. 21 361 2400 > até 15 set, ter-dom 10h-17h30> €10
4. Paradigm Lisboa
Se a porcelana é um material frágil, é certo que Ai Weiwei a usa para transmitir mensagens fortes. Quase, quase a terminar, Paradigm revela 17 obras recentes, realizadas em porcelana ou em Lego, por vezes cruzando ambas as linguagens: é o caso do tríptico realizado com peças de Lego a recriar uma peça mediatizada e politizada, Dropping a Han Dynasty Urn, em que o artista se mostra a deixar cair um vaso chinês que se espatifa no chão. Presentes estão ainda Girl with Pearl, o famoso quadro de Vermeer também reconstituído com os blocos coloridos, peças de porcelana ilustradas com cenas de refugiados em vitrines ou a curiosa instalação de frutos e vegetais em loiça, que lembra o português Bordallo Pinheiro. São Roque Antiguidades e Galeria de Arte > R. de São Bento, 199A > T. 21 396 0734 > até 31 ago, seg-sáb, 10h30-19h > grátis
5. Às Escuras Lisboa
Esparsas têm sido as ocasiões para reencontrar Rosa Carvalho, pintora que explora, aqui, um novo e fascinante território traduzido em esculturas criadas com materiais reciclados (cigarreiras, rolos de fita-cola, redomas…) e nanofiguras apanhadas em posturas poéticas (uma cadeira solitária no topo do glaciar, uma mulher que limpa o chão-azulejo, minúsculos soldados na waste land de uma fruteira…). Nesta exposição preciosa, curada por Isabel Carlos, há 200 trabalhos a pulsar por atenção, entre pequenos teatros, aguarelas e desenhos de paisagem marcada pela figura humana e por bestiário enigmático, ou pinturas que refletem o (pequeno) mundo. Museu Arpad Szenes – Vieira da Silva > Pç. das Amoreiras, 56/58 > T. 21 388 0044 > até 6 out, ter-dom 10h-18h > €7,50
6. Marina Tabassum. Materiais, Movimentos e Arquitetura no Bangladesh Lisboa
Esta mostra é uma janela para o mundo, e para o fazer diferente. Arquiteta e investigadora, nascida em 1968 e distinguida com o prémio Aga Khan 2016, e a trabalhar em Daca, Marina Tabassum criou uma prática “da terra para a mesa do projeto arquitetónico”, uma arquitetura social que trabalha com as populações e os recursos locais. A instalação evocativa dos cursos de água que cruzam o Bangladesh, a casa modular de bambu e aço Khudi Bari com manual de instruções incluído para ser (des)montada consoante as necessidades, os vários projetos construídos em tijolo, tão bonitos, transformam a perspetiva de quem vê. MAC/CCB > Pç. do Império > T. 21 361 2800 > até 22 set, ter-dom 10h-18h30 > €7
7. Les Frissons, les Étoiles e os Pirilampos Lisboa
A Francisco Queirós, interessava-lhe falar de utopias potenciais, mas há um efeito Ícaro a emboscá-las. Algo está a acontecer nos ecrãs da exposição, sublinha, mas não se sabe bem o quê porque a ação tem um tempo longo, diferente do dos humanos. O que não impede o artista de ensaiar uma reflexão através de trabalhos digitais e analógicos: pinturas (que rebaixa à condição de estudos), esculturas em caixas (negações da “última utopia” que nos resta, diz, a do toque como a proximidade possível); vídeos que incluem animação, montagem de objetos reais, ou um “cinema” de frases apropriadas de niilistas como Vivienne Westwood ou Sex Pistols. Galeria Miguel Nabinho > R. Tenente Ferreira Durão, 18 B > T. 21 383 0834 > até 6 set, seg-sex 10h30-19h, sáb 10h30-19h > grátis
8. Os Dias Estão Numerados Lisboa
Daniel Blaufuks entregou-se desde 2018 a um projeto-monumento, um diário fotográfico. Isto é, submeteu-se à obrigatoriedade de auscultar o mundo, sem plano prévio, e logo produzir todos os dias um registo visual. O fotógrafo assume estar hoje mais opinativo: nas mais de 450 imagens, por vezes intervencionadas com palavras, colagens, recortes, biografia, há também reflexões sobre o mundo e a Natureza, e reações aos conflitos nos territórios ucraniano e palestiniano. MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia > Av. Brasília, Belém > T. 21 002 8130 > até 7 out, qua-seg 10h-19h > €11
9. Rémiges Cansadas Lisboa
Experiência sensorial que amplifica leituras de um poema de Daniel Faria (1971-1999), fazendo da cor vermelha uma aliada na exploração plástica de significados, memórias, liturgias. A exposição surge da proximidade do artista e académico Samuel Silva ao “poema-objeto” oferecido por Daniel a um amigo em 1991, redigido num papel de caixa registadora, com as superfícies laterais embebidas em tinta vermelha, e passível de ser desenrolado como um manuscrito bíblico – uma peça que revela e oculta simultaneamente o que está escrito. Brotéria > R. São Pedro de Alcântara, 3 > T. 21 396 1660 > até 7 set, seg-sáb 10h30-19h > grátis
10. Paula Rego: Manifesto Cascais
As figuras podem ser menos definidas, o jogo de cores mais exuberante, a abstração fazer-se presente, mas estão lá as sementes do corpo de trabalho da artista portuguesa desaparecida em 2022. Esta exposição celebra a primeira individual de Paula Rego, ocorrida em 1965 na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, em que explorava fraturas da sociedade portuguesa, como a ditadura e o colonialismo, e tinha já uma visão crítica sobre a experiência feminina condicionada pelo patriarcado. Casa das Histórias Paula Rego > Av. da República, 300 > T. 21 482 6970 > até 6 out, ter-dom 10h-18h > €5
11. João Abel Manta Livre Oeiras
Imaginar a paisagem visual do Portugal pré e pós-25 de Abril sem o traço benigno e certeiro de João Abel Manta, testemunha das manias e conquistas pátrias, é impossível. Toda a gente reconhece um cartoon seu, nem que seja MFA, Povo com os protagonistas desenhados com as “fardas” trocadas. Panorâmica abrangente dedicada ao artista, beneficiou do acesso ao seu arquivo pessoal e dos empréstimos de obras de instituições e colecionadores privados – como Vasco Gonçalves, a quem Abel Manta ofereceu maquetas de cartazes que são, finalmente, reveladas. Uma viagem bem-humorada por pintura, desenho, cartoon, ilustração, design gráfico, azulejos, tapeçarias, cartazes, cenografia e figurinos para teatro, pela mão de um criador livre. Palácio Anjos > Alameda Hermano Patrone, Algés > T. 21 411 1400 > até 20 dez, ter-dom 11h-18h > €2
12. Quando Soubermos Ouvir as Árvores Almada
O título foi buscado na escrita de Herman Hesse, os desenhos evocam Maria Gabriela Llansol. Esta proximidade à literatura tem sido uma bússola constante na produção de Ilda David, capaz de a metamorfosear em paisagens outras. Mas o visitante não precisa destas referências para se imbuir de serenidade, simbolismos, declinações da Natureza, constantes nestas pinturas e nos desenhos sulcados por bordados, e sair renovado das salas do convento. Convento dos Capuchos > R. Lourenço Pires de Távora, Costa da Caparica > T. 21 291 9342 > até 14 set, seg-sáb 10h-13h, 14h-18h > grátis
13. The Infinite Ways of Creation Ericeira
A fachada da galeria expõe o traço reconhecível de Vanessa Teodoro, que usa o grafismo de linhas fortes, a linguagem da ilustração, as influências da street art e o contraste do preto e branco como ferramentas. Da loiça à madeira, do papel à parede, estes suportes diversos funcionam como folhas em branco para um léxico exuberante. Aqui, há pratos de loiça e pranchas de skate pintados com linhas e ziguezagues, mas também esculturas com formas geométricas reminiscentes do corpo feminino. Hélder Alfaiate – Galeria de Arte > R. da Fonte do Cabo, 40A > T. 91 244 5783 > até 8 set, qua-dom 11h-14h30, 15h30-20h > grátis
14. Helena Almeida – Habitar a Obra Caldas da Rainha
Oportunidade para reencontrar as pinturas icónicas de Helena Almeida (1934-2018) da série Pintura Habitada (1975), em que a artista plástica radicalizou o discurso pictórico, intervindo nos seus autorretratos a preto e branco com pinceladas azul-Klein. Gestos performáticos que dessacralizaram a tela e trouxeram o corpo para dentro da obra. No âmbito do programa Serralves Fora de Portas, a estes trabalhos da coleção do museu portuense acrescentam-se obras últimas, como as da série Abraço (2006), com o marido, Artur Rosa, a surgir a seu lado, revelado num enquadramento cúmplice. Uma outra camada com significado familiar é trazida pela circunstância de esta exposição estar patente no museu dedicado ao pai da artista, o escultor Leopoldo de Almeida, em cujo atelier ela trabalhou até ao fim. Museu Leopoldo de Almeida – Centro de Artes > R. Ilídio Âmado > T. 262 840 540 > até 6 out, seg-sex 9h-12h30, 15h-18h > grátis
15. O Tempo de Todas as Perguntas Évora
O imenso arquivo de Alfredo Cunha tem-se desdobrado ultimamente em diversas exposições e livros, para sorte nossa. Inserida nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, a exposição O Tempo de Todas as Perguntas revela 36 fotografias, algumas destas inéditas, focadas nas crianças à época da revolução de 1974. Há risos e lágrimas, travessuras, caretas e calções remendados, num retrato sentido do País, sempre permeado pelo humanismo e pelas inquietações sociais do fotógrafo português, que, aqui, teve curadoria da escritora Patrícia Reis. Fundação Eugénio de Almeida > Páteo de São Miguel > até 6 out, ter-dom 10h-13h/14h-19h > grátis
16. Stirring the Pot Comporta
Partindo do conceito do arroz, omnipresente em várias civilizações e nos arrozais vizinhos da Comporta, a historiadora de arte Nancy Dantas convocou cinco artistas contemporâneos para uma reflexão celebratória, social e geográfica a partir do humilde grão, antes guardado neste espaço. O resultado é uma paisagem multiculturalista de ecos rurais: a escultura aérea semelhante a poeiras do sul-americano Igshaan Adams e a peça de parede dramática que alude à História dos EUA do norte-americano Leonardo Drew são vizinhos das pinturas texturadas da brasileira Marina Rheingantz e do bando de pássaros realistas esculpidos pelo brasileiro Efrain Almeida – um dispositivo cenográfico que compete na atenção captada pelas enormes telas têxteis do baiano Alberto Pitta. Casa da Cultura da Comporta > R. do Secador, 8 > até 31 ago, ter-dom 11h-14h, 17h-20h > grátis
17. MFA – Mostra de Fotografia e Autores de Faro Faro
À segunda edição, a MFA apresenta 17 exposições sob os temas sustentabilidade e multiculturalidade. Agenda 2030 mostra 30 imagens de 19 fotógrafos, escolhidas entre mais de 250 pelos curadores António Pedrosa, Clara Azevedo, Valter Vinagre e Vasco Célio. A fotógrafa Pauliana Valente Pimentel revela um Dubai real em Empty Quarter; Despedido, de Valter Vinagre, retrata a destruição da Feira Popular, alvo da especulação imobiliária; Lucília Monteiro, fotojornalista da VISÃO, criou Imagem Foto Corpo Lugar, sobre o arquivo fotográfico de José de Sousa Monteiro, de 1950 a 1999. O projeto documental de Elisa Freitas, Na Hora da Verdade, Não Sabia como Lê-las, aborda a história de um casal durante a Guerra ColonialMas há mais: Joana Dionísio faz um luto familiar em And the Shape of Things Disappeared for a While; Helena Gonçalves traz fotografias encenadas em Raiz. O luso-brasileiro Bruno Saavedra capta a realidade das crianças de São Tomé e Príncipe em Para Não Dizerem que Não Falei das Folhas; a romena Alina Zaharia explora os temas da identidade e do perdão em A Fada do Salgueiro; a alemã Polly Hummel explora a simbologia corporal em Kuss den Frosch. Um Algarve cheio. Fábrica da Cerveja > R. do Castelo, 10 > até 31 ago, seg-sáb 18h-24h > grátis
PORTO E NORTE
18. Universo Dalí Vila Nova de Gaia
Elefantes com pernas infinitas, romãs que xxx obras arrumadas: desenhos, esboços, pinturas, esculturas, assim como trabalhos comerciais e publicitários assinados por Dalí. Um núcleo importante é dedicado às fotografias captadas pelo fotógrafo francês Robert Descharnes entre 1955 e 1985, permitindo (re)ver o lado teatral e sempre em pose do artista espanhol. Museu Atkinson > WOW – World of Wine, R. do Choupelo, 132 > T. 22 012 1200 > até 31 out, seg-dom 10h-19h > €15
19. Yayoi Kusama 1945-Hoje Porto
Oito décadas de trabalho reúnem-se na maior retrospetiva dedicada à prolífica japonesa de 95 anos: são mais de 160 obras permeadas pela cor, pelas geometrias que habitavam as alucinações da artista, pelo gesto vanguardista e pela biografia de Yayoi Kusama. A marcha psicadélica avança com os espelhos, abóboras, padrões de bolas, redes, tentáculos, ondas irradiantes – o caos organizado. Dividida em sete grandes temas – Autorretrato, Infinito, Acumulação, Conectividade Radical, Biocósmico, Morte e Força de Vida –, esta exposição incontornável inclui tanto os primeiros desenhos realizados enquanto adolescente japonesa a viver o trauma da II Guerra Mundial, como as obras monumentais recentes já criadas em plena Kusamania. Fundação de Serralves > R. Dom João de Castro, 210 > T. 22 615 6500 > até 29 set, ter-sex 10h-17h, sáb-dom 10h-20h > €20 (o bilhete dá acesso a todas as exposições no museu)
20. Formas dos Futuros ao Redor Porto
Resistir, revolucionar, repensar, imaginar são palavras de ordem associadas a Formas dos Futuros ao Redor. Curada por João Laia, a exposição adota uma “perspetiva queer expandida”, com a ambição de desafiar as “narrativas dominantes”. É uma reflexão que deseja ir além do debate identitário e configurar um futuro diferente para o qual contribuem artistas que, em comum, têm um não conformismo: Rodrigo Hernández, Maria Jerez, Kem, Sandra Mujinga, Luiz Roque, Outi Pieski, Ana Vaz, P. Staff, Osías Yanov e o projeto Nave Geo-Celestial de Joana da Conceição. Afrofuturismo, ficção científica, música eletrónica, luzes estroboscópicas, vídeos imersivos e paisagens sensoriais alinham-se para uma utopia alternativa. Galeria Municipal do Porto > R. de D. Manuel II, Jardins do Palácio de Cristal > T. 22 507 3305 > até 8 set, sex-dom 12h-20h, 10-15 set, ter-dom 10h-18h > grátis
21. Para Ser Eterno Basta Ser Um Livro – Editorial e Design do Livro em Portugal no Século XX Matosinhos
José Bártolo e Jorge Silva tratam o livro como objeto de design, investigando a história editorial nacional e os autores, artistas e artesãos a ela associados: ou seja, editores, ilustradores, designers. A exposição, dividida em quatro temas – Explosões, Coleções, Temas e Anatomia de um Livro –, apresenta originais publicados, desenhos, maquetes, artes finais, documentos vários. Quem nunca comprou um livro por ser um belo objeto que atire a primeira bola de papel… Casa do Design > Edifício Paços do Concelho, R. de Alfredo Cunha > T. 22 939 2470 > até 27 out, ter-sex 10h-13h, 15h-18h, sáb-dom 15h-18h > grátis
22. Cidade, Casa, Corpo – Os Mapas e a Linguagem Matosinhos
Uma cartografia labiríntica construída pela arquiteta e desenhadora excelentíssima Ana Aragão e pelo mestre da efabulação humana e metafísica que é Gonçalo M. Tavares desdobra-se em 13 mapas com impacto visual e poético. São cidades imaginárias, ou até cidades invisíveis, para roubar o termo a Italo Calvino. Malhas urbanas onde cabem avenidas emocionais, becos de reminiscências, encontros fortuitos. Os escritos de Tavares dedicados a lugares como Manhattan, Moscovo ou Praga não roubam protagonismo às linhas intrincadas desenhadas, e vice-versa: cada um oferece um fio de Ariadne. Casa da Arquitectura > Av. Menéres, 456 > T. 22 766 9300 > até 29 set, ter-sex 10h-18h, sáb-dom 10h-19h > €10
23. Obras Escondidas, Obras Escolhidas Bragança
Graça Morais soma 50 anos de vida artística em 2024, data simbólica vivida pelo 25 de Abril, que ecoa a postura cívica da pintora, atenta aos solavancos humanistas do mundo. Recusando rótulos de mostra antológica ou de retrospetiva, a exposição apresenta cerca de 160 obras, incluindo um acervo de 80 pinturas retiradas da gaveta e vistas pela primeira vez em público. Contas feitas ao calendário, os trabalhos mais antigos datam de 1975, altura em que a artista lecionava Educação Visual em Guimarães, e os mais recentes, de 2023, habitados pela realidade dos conflitos e crises humanitárias testemunhados nos jornais lidos pela pintora transmontana, e usados como inspiração para a sua aparentemente inesgotável produtividade artística. Centro de Arte Contemporânea Graça Morais > R. Abílio Beça, 105 > T. 273 302 410 > até 26 jan, ter-dom 10h-18h30 > €2,39
24. Fronteiras Braga
Exercitando um léxico pictórico reconhecível desde a década de 1980, Pedro Calapez mostra pinturas sobre alumínio ou sobre tijolo. São 23 obras selecionadas em 20 anos de produção generosa, incluindo alguns inéditos e peças que testam, ainda e sempre, as definições e os limites da escultura, do desenho e do apontamento arquitetónico. Juntou-se-lhes ainda um critério de aproximação à tradição industrial patente no espaço expositivo, para rematar Fronteiras. Zet Gallery > R. do Raio, 175 > T. 253 116 620 > até 21 set, seg-sáb 14h-19h > grátis
25. Manu Braga
Noora Mänty criou um comovente portefólio dos últimos anos de vida do seu avô, fragilizado pela doença mas atento aos rumores do mundo. A fotógrafa finlandesa radicada em Portugal captou rotinas e cenas domésticas em cores invernosas: o avô a ler, a tomar chá, a observar o mundo exterior pela janela aberta, a ser cuidado pela mulher. O equilíbrio “nórdico” e nostálgico deste registo documental é sobressaltado por cores, que denunciam a inexorável passagem do tempo: ramos de flores a murchar, uma figura solitária entre os roxos e amarelos da cozinha modesta. Galeria da Estação – Encontros da Imagem > Lg. da Estação, 40 > até 31 ago, ter-sáb 14h-18h > grátis
26. PoPalolo Coimbra
Figura referencial da arte portuguesa do século XX, António Palolo (1946-2000) foi o que se poderia designar como um agente da arte pop em Portugal, trazendo aquilo a que o curador Miguel von Hafe Pérez chama “uma presença pictórica refrescante”, ou seja, um outro olhar sobre a criação, atento às questões da acessibilidade da arte, dos processos rápidos de produção e das influências urbanas. O pintor, autodidata, construiu um corpo de trabalho marcado pela geometria, pelo uso inteligente e arriscado da cor, pelo impacto visual das peças, por vezes pouco obedientes aos confinamentos da tela, antes aventurando-se em ângulos pelas paredes do white cube. É precisamente o seu legado mais devedor do movimento da pop que está patente no CAV, numa mostra ambiciosa que tardava, já que a última retrospetiva dedicada ao artista foi no distante ano de 1995. Percorrer o espaço do CAV por entre as vibrantes telas patentes é uma aventura feliz, uma redescoberta de Palolo, artista sem fronteiras. E há um remate final que contribui para a melhor contextualização do artista: o visionamento do filme Ver o Pensamento a Correr, realizado por Jorge Silva Melo em 1995. Um reencontro necessário. CAV – Centro de Artes Visuais > Pátio da Inquisição, 10 > T. 239 836 930 > até 15 set, ter-dom 14h-19h > grátis
27. Vamos para a Mesa! Coimbra
Os rituais da comida, a sociabilidade trazida pelos refeitórios, a mesa de refeição como lugar de investigação de “dimensões societárias, políticas, culturais, sanitárias, económicas e sustentáveis da humanidade”, são conceitos que alimentaram a participação dos 11 artistas ligados à Galeria Underdogs nesta coletiva indoor. Vamos para a Mesa! conta com obras criadas especificamente para o espaço do antigo refeitório do Mosteiro de Santa Cruz por AkaCorleone, Cássio Markowski, Fidel Évora, HalfStudio, Julien Raffin, Marta Lapeña, Pitanga, Raquel Belli, Tamara Alves, Unidigrazz e Maria Imaginário. A ver com apetite. Sala da Cidade – Antigo Refeitório do Mosteiro de Santa Cruz > R. Olímpio Nicolau Rui Fernandes > T. 239 840754 / 239 857525 > até 26 out, ter-sáb 13h-18h > grátis