Da Dinamarca estamos habituados a receber estreias de ramificações da escola Dogma de Lars von Trier, filmes com uma certa crueza e risco na forma como retratam o mundo contemporâneo. Nikolaj Arcel, experiente realizador, percorre outros caminhos, encontrando o seu lugar em filmes de época. Assim aconteceu com Um Caso Real (2012), que na altura lhe valeu uma nomeação para os Oscars, e acontece agora em A Terra Prometida, que tem acumulado prémios em festivais relevantes. É, contudo, interessante verificar que o filme, apesar de estar deslocado temporalmente, não abdica de cenas de uma crueza e de uma perversidade extremas, dignas de um Lars von Trier.
A ação passa-se na Dinamarca do século XVIII. Um soldado aposentado propõe-se, ao rei, a cumprir o desafio de cultivar as inférteis terras da charneca dinamarquesa e estabelecer ali um colonato. Uma tarefa quase impossível, que se torna ainda mais difícil pela oposição feroz do maquiavélico e todo-poderoso Frederik De Schinkel. Trava-se uma dura batalha que passa por uma definição estratégica, moral e filosófica, mas também por uma luta pela sobrevivência em terreno hostil.
Baseado no livro The Captain and Ann Barbara, de Ida Jessen, o filme, feito de extremos, procura a grandiosidade épica, partindo da força do vilão para criar um herói forte, com qualidades e defeitos. Faz um retrato severo do século XVIII dinamarquês, um mundo quase gore. Ao mesmo tempo, desenha um confronto entre a génese de uma mentalidade progressista e o atraso civilizacional dos poderes instituídos. Isto perante uma paisagem inóspita, mas deslumbrante, bem captada pela direção de fotografia.
Para A Terra Prometida, Arcel foi mais uma vez recrutar o inexcedível Mads Mikkelsen que, embora talvez seja demasiado velho para o papel, sustenta a personagem de forma vigorosa, dando-lhe pragmatismo e humanidade. Depois de excelentes interpretações em filmes como A Caça e Mais uma Rodada, Mikkelsen continua a ser o ator dinamarquês do momento.
A Terra Prometida > De Nikolaj Arcel, com Mads Mikkelsen, Amanda Collin, Simon Bennebjerg, Melina Hagberg > 127 min