Talvez seja injusto para Nanni Moretti ou para Stéphane Brizé dizer que Ken Loach é o último grande realizador de esquerda na Europa, mas a verdade é que poucos como ele tratam de forma tão declaradamente política tensões e lutas sociais dos nossos tempos. Essa foi, de resto, uma missão do cineasta britânico ao longo de décadas, que tem sabido recontextualizar na era contemporânea.
Naturalmente que no século XXI já não nos deparamos com as reivindicações de mineiros, que Thatcher tão desumanamente hostilizou. Os tempos são outros. Os sindicatos perderam força. Há até explorados que são patrões de si próprios, como Loach tão bem retratou no filme anterior, Passámos por Cá.
Agora, o desafio é outro e surpreendente. Loach leva-nos a uma vila mineira do Norte de Inglaterra que recebe um grupo de refugiados sírios. A tensão social explode e desmascara o racismo endémico britânico. É uma equação difícil. Loach força-se a pôr em contraponto a sua “amada” classe operária com os refugiados, que são mais pobres do que os pobres. É um conflito particularmente amargo, pois quase que simboliza uma derrota ideológica, uma derrota moral de uma classe que em tempos soube ir para as ruas gritar por quem não tinha direitos. Loach sublima a raiva e a desilusão pela personagem de T.J., o taberneiro, que, apesar das suas pequenas contradições, mantém clarividência moral e ideológica. A síntese do seu pensamento dá-se quando diz ao amigo que o trai que é sempre mais fácil bater em quem está em baixo do que olhar para os verdadeiros culpados lá em cima. E a conclusão da história só pode ser que operários e refugiados estão no mesmo plano, pois são todos vítimas de uma sociedade opressora.
Ken Loach é programático, claro, por vezes um pouco explicativo demais, quase a passar a linha do panfletário. O seu cinema, contudo, é feito de histórias. E O Pub The Old Oak é um filme comovente, incisivo, com uma mensagem que deveria entrar nos corações de uma Europa cujos valores estão ameaçados pela subida da extrema-direita.
O Pub The Old Oak > De Ken Loach com Dave Turner, Ebla Mari e Claire Rodgerson > 113 min