Pelas salas, já se pode ver o resultado de um trabalho que começou a ser preparado há dois anos. Tesouros dos Reis. Obras-primas do Terra Sancta Museum, exposição que abre as portas nesta sexta, 10, no Museu Gulbenkian traz a Lisboa uma amostra daquilo que os reis católicos europeus enviaram, entre os séculos XV e XIX, sobretudo para a Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém.
À Fundação Gulbenkian interessou “mostrar o lado artístico deste tesouro”, diz André Afonso, conservador do museu e comissário executivo da exposição.
É ele que nos conduz ao longo dos quatro núcleos temáticos, explicando que, entre essas doações, estavam moedas de ouro, cera, azeite e também, no caso português, canela, açúcar e chá destinados ao sustento das igrejas e comunidades locais – leia-se, os franciscanos, que registavam em livros tudo o que lá chegava, “hoje fonte de documentação preciosa”.
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Mas a generosidade dos soberanos ia mais longe, qual manifestação de devoção e de poder, incluindo ourivesaria litúrgica e têxteis luxuosos da época, utilizados no culto e na ornamentação.
Uma preciosa lâmpada de igreja em ouro enviada por D. João V, o grande baldaquino em ouro maçico (para colocação de custódia ou crucifixo) oferecido por Carlos VII, rei de Nápoles, ou os paramentos doados por Luís XIV de França são exemplos de até onde iam as estratégias políticas na época.
A ajudar no enquadramento histórico, encontram-se também 25 peças emprestadas por vários museus portugueses, como o Museu Nacional de Arte Antiga ou o Museu do Azulejo.
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Do conjunto de 75 peças que chegaram em maio a Lisboa vindas do Terra Sancta Museum (a funcionar atualmente como núcleo arqueológico), 40 foram alvo de restauro por uma equipa portuguesa de especialistas em metais, madeiras e têxteis constituída para o efeito. Além dos conservadores do Museu Gulbenkian, participaram técnicos do laboratório José de Figueiredo.
Tal só possível, frisa André Afonso, com a colaboração das instituições em Santiago de Compostela (Espanha), Florença (Itália) e Nova Iorque (EUA), onde estas mesmas peças serão também mostradas. Depois, hão de regressar à Cidade Velha de Jerusalém, ao núcleo destinado às coleções históricas e artísticas do Terra Sancta Museum, gerido pela Custódia da Terra Santa, com inauguração prevista para 2026.
Jerusalém, cidade central para as três grandes religiões monoteístas – judaísmo, cristianismo e islamismo -, foi também lugar de peregrinação da família Gulbenkian. Desde cedo, o colecionador arménio que veio a criar a fundação em Lisboa teve uma relação especial com a Terra Santa, que visitou por diversas vezes.
“Numa viagem em 1887, tinha então Calouste Gulbenkian oito anos, os seus pais ofereceram uma pequena pintura com a iconografia de um Cristo Ressuscitado, que ainda hoje está na edícula do Santo Sepulcro, um local absolutamente central”, realça André Afonso. Essa relação está, de resto, representada nesta exposição que lhe dedica um dos núcleos.
Tesouros dos Reis. Obras-primas do Terra Sancta Museum > Fundação Calouste Gulbenkian > Av. de Berna, 45A, Lisboa > 10 nov-26 fev, seg, qua-dom 10h-18h > €6, grátis dom a partir das 14h