Pelo menos desde o clássico O Ódio (1995), de Mathieu Kassovitz, que, em alternativa às clássicas histórias burguesas, quase se estabeleceu um subgénero cinematográfico francês à volta dos subúrbios marginalizados das grandes cidades, com uma leitura política e social. O tema parece tão evidente quanto urgente, mas ainda assim torna-se difícil por vezes oferecer novas perspetivas ao contexto.
Os Piores, filme de Lise Akoka e Romane Gueret, que surpreendeu ao ganhar o prémio Un Certain Regard, em Cannes, acrescenta uma camada ao olhar sociológico ou antropológico: não se trata apenas de um olhar sobre o bairro, mas sobre um filme que está a ser feito recorrendo às suas crianças e adolescentes.
Há um sentido crítico ou autocrítico na figura do realizador, que manipula, com poucos escrúpulos, os menores vulneráveis em nome de um conceito de arte. Uma espécie de bullying artístico de ética duvidosa. A dupla francesa construiu uma obra interessante e original, que levanta questões sobre os limites do cinema social.
Os Piores > De Lise Akoka e Romane Gueret, com Mallory Wanecque, Timéo Mahaut, Johan Heldenbergh > 99 min