Em 2022, 12 artistas – quatro noruegueses e oito portugueses – viveram durante seis semanas nas casas de moradores de Alijó, Lamego, Mêda e Torre de Moncorvo. O objetivo? “A criação de laços de empatia e de proximidade com a população, de forma a refletir sobre questões dos territórios de baixa densidade”, explica Virgílio Ferreira, codiretor artístico (juntamente com a australiana Jayne Dyer) da Bienal de Fotografia do Porto que, até 2 de julho, ocupará 14 locais da cidade à volta da temática “Atos de Empatia”, numa organização da plataforma Ci.CLO. A entrada é grátis.
O que nos move é desafiar as pessoas a pensar a sua relação com o mundo, no sentido de ativar mudanças socio-ecológicas regeneradoras
Virgílio Ferreira, codiretor da bienal
O resultado dessa residência artística de um mês e meio no Douro e em Trás-os-Montes faz parte do projeto Vivificar (viver+ficar), um dos quatro núcleos da bienal que mostrará, no Museu do Vinho do Porto, os trabalhos dos 12 artistas: Alexandre Delmar, André Tribbensee, Fábio Cunha, Hasan Daraghmeh, Ine Harrang, João Pedro Fonseca, José Miguel Pires, Maria Lusitano, Patrícia Geraldes, Raquel Schefer, Trond Lossius e Violeta Moura.
“O que nos move é desafiar as pessoas a pensar a sua relação com o mundo, no sentido de ativar mudanças socio-ecológicas regeneradoras”, sustenta Virgílio Ferreira. Esta terceira edição da Bienal de Fotografia do Porto, diz o diretor artístico, foca-se “no trabalho com a comunidade e no lugar do outro”, e em “resgatar a capacidade de nos mobilizar a nivel individual e coletivo” através de trabalhos em fotografia, vídeo e instalação.
No Centro Português de Fotografia, na exposição Atravessar a Matéria do Tempo, Marcelo Moscheta propõe uma reflexão sobre o tempo das árvores a partir dos seus nós, num projeto em parceria com o Centre for Functional Ecology – Science for People & the Planet da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. A partir de imagens de laboratório, o artista visual brasileiro radicado em Coimbra reinterpreta, e acrescenta, camadas de diferentes matérias, “numa analogia ao sistema de transformação das células que sustentam a árvore e, por conseguinte, a vida”.
O projeto de Marcelo Moscheta integra o núcleo da bienal intitulado Sustentar, que “reflete sobre questões de sustentabilidade urbana”, e do qual fazem parte os retratos tirados por Matilde Viegas e Uwa Iduozee nos bairros portuenses do Lagarteiro e do Cerco (expostos na Estação de Metro de São Bento); os trabalhos de Inês d’Orey acerca dos benefícios ambientais das coberturas verdes em ambientes urbanos (na Fundação Marques da Silva); ou o projeto de Jorge Graça que evoca a gestão da água a partir de um lugar em Loulé (Artes Mota Galiza).
Da cooperação com organizações culturais internacionais, como é o caso da Casa Arabe e da PhotoEspaña, surge a mostra de 12 fotógrafos libaneses, Luzes ou Sombras do que Foi e Continua a Ser (patente na Casa Comum – Reitoria da Universidade do Porto ) sobre acontecimentos dos últimos anos e da História do Líbano, ou, entre outros, o trabalho Forest Mind da artista visual suiça Ursula Biemann, construído a partir de uma pesquisa de campo na floresta amazónica da Colômbia.
Conectar e Expandir são os outros dois eixos da bienal que pretende ser uma plataforma de criação artística de apoio a jovens emergentes – este ano, coube a Carolina Tardin, Gonçalo C. Silva, Joana Dionísio, Maria Leonardo Cabrita e Marta Pinto Machado integrarem a comunidade europeia de fotografia Futures.
Ao longo deste mês e meio em que decorre a Bienal de Fotografia do Porto, o público terá ainda acesso a visitas guiadas e a oficinas experimentais gratuitas, a partir do coreto do Jardim da Cordoaria. Até porque, reforça Virgílio Ferreira, “a Bienal é muito mais do que expôr fotografias. O propósito é tocar as pessoas e ativar mudanças.”
AS EXPOSIÇÕES DA BIENAL DE FOTOGRAFIA DO PORTO
até 2 jul > vários locais do Porto > grátis > bienalfotografiaporto.pt
- Atravessar a Matéria do Tempo, de Marcelo Moscheta > Centro Português de Fotografia, Lg. Amor de Perdição
- Interrelações, de Matilde Viegas e Uwa Iduozee > Estação de Metro de São Bento
- Green Roofs, Grey Roofs, de Inês d’Orey > Fundação Marques da Silva, Pç. Marquês de Pombal
- Petricor, de Jorge Graça > Artes Mota Galiza, R. de Júlio Dinis
- Deep Blue, coletiva vários artistas > Palacete Viscondes de Balsemão, Pç. Carlos Alberto
- Ecologias Especulativas, de Eliana Otta, Heyseon Jeong, Seongmin Yuk e Ursula Biemann > Centro Português de Fotografia, Lg. Amor de Perdição
- I Pity the Garden, de Mariam Natroshvili e Detu Jincharadze > Mala Voadora, R. do Almada, 277
- Luzes ou Sombras do que Foi e Continua a Ser, coletiva vários artistas > Casa Comum – Reitoria da Universidade do Porto, Pç. dos Leões
- Deslocamentos, coletiva vários artistas > P. Artes, Pç. Marquês de Pombal
- Imagem em Devir, de Alice Martins e Teresa Bessa > Mira Fórum, R. de Miraflor, 155
- Eternal Youth, coletiva das aulas de fotografia de Susana Lourenço Marques > Pavilhão de Exposições da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, Av. Rodrigues de Freitas, 265
- Fading Senses, Sensitive Territories, de Ligia Poplawska > Galeria Salut au Monde, R. Santos Pousada, 620
- Vento (A)Mar, de Dori Nigro e Paulo Pinto > Centro Hospitalar Conde Ferreira, R. Costa Cabral, 1211
- Vivificar, coletiva vários artistas > Museu do Vinho do Porto, R. da Reboleira, 33
- Preto/Verde/Branco, de Rita Leite, Yasmine Leal Moradalizadeh > Casa da Imagem, R. Soares dos Reis, 612, Vila Nova de Gaia