As referências pessoais entram nas telas de Pedro Batista como a luz que inunda o espaço onde estão expostas as 13 obras da sua mais recente exposição: de forma natural e abundante.
As paisagens “dreamy”, como descreve o artista, são autênticas janelas abertas para fragmentos de conversas, pensamentos e situações que, de certa forma, cruzaram caminhos com o dia a dia de Pedro.
O próprio nome da exposição – O Monstro está Cheio de Fome – foi escolhido pelo filho mais novo e parece servir o propósito, já que remete para uma ideia de voracidade. Talvez a mesma com que nos habituamos a viver, sem ter tempo para acalmar essa “fome” de novidade ou contemplar a beleza do familiar, do conhecido, que, por sê-lo não quer dizer que se esgote à primeira vista.
Apesar de saber que a vida acaba por ir parar, inevitavelmente, às suas telas, Pedro Batista assegura não estar “super concentrado numa coisa” quando começa a pintar. “É um processo muito visceral, no qual a tela vai surgindo, vai-se revelando”. E revela-se, não só ao próprio artista como a quem “perde” tempo à procura das histórias escondidas debaixo das várias camadas de tinta por ele pintadas.
“São imagens construídas com tempo e pensadas para serem contempladas também com tempo, num processo de descoberta”, afirma. É quase um gesto revolucionário. Um travão na atual tendência de consumo gráfico, pautada pelo gesto rápido de um polegar que empurra imagens para a esquerda, procurando, sofregamente, mais informação.
Numa praia em tons de amarelo claro, na janela de um comboio suspensa entre árvores azul pálido ou numa cratera lunar, escavada no meio de um campo rosa pastel, acumulam-se ecos de histórias, pincelada após pincelada.
E quase podemos ouvi-los a voar entre as paredes côncavas do espaço Ulisseia, em Marvila, onde as 13 obras expostas parecem dialogar entre si numa conversa silenciosa feita de cor, tinta, luz e, acima de tudo, sugestão, “a grande liberdade da pintura”.
O Monstro Está Cheio de Fome > Espaço Ulisseia > Av. Infante Dom Henrique, Edifício Beira Rio, Armazém P, Lisboa > até 18 de março > grátis