1. Objectos de Luz, de Acácio de Almeida e Marie Carré
No rescaldo do DocLisboa, chega às salas um invulgar número de documentários. Uma oportunidade para dar importância a um género ou formato muitas vezes tratado de forma subalterna. Entre as novidades em sala, destaca-se Objectos de Luz, a surpreendente estreia na realização de Acácio de Almeida (ao lado de Marie Carré), que é diretor de fotografia, há muito com presença assegurada na história do cinema português. Começou na profissão novo, primeiro com Sete Balas para Selma, de António de Macedo, e depois com O Cerco, de António da Cunha Telles. Fez a fotografia de mais de uma centena de filmes, incluindo obras importantes de Raoul Ruiz, Alain Tanner, João César Monteiro, António Reis e Margarida Cordeiro, entre outros.
Objectos de Luz tem um lado “autobiográfico”, de revisão do seu próprio percurso, em busca de memórias ou elementos de consistência. Mas, mais do que um autorretrato, o filme é um convite à reflexão, revelando um pensamento estruturado sobre a luz, enquanto matéria essencial do seu trabalho, e a própria vida. Assume-se assim como uma obra poética e filosófica, que nos ilumina e inquieta.
Outra importante estreia é Terminal Norte, da argentina Lucrecia Martel. Uma curta-metragem que se estreia isoladamente, em que a realizadora faz uma espécie de Buena Vista Social Club das margens da sociedade argentina. Um filme musical, que tanto tem a nova eletrónica, com um trap (que é, na essência, um contra-trap), como explora as tradições, renovando-as. Filmado sempre com a mestria que se lhe reconhece – Lucrecia Martel é uma das maiores realizadoras latino-americanas da atualidade –, fica clara também a perspetiva política e social, inserida na luta contra a desigualdade de género e nas causas feministas e LGBT.
2. Submissão, de Leonardo António
Inspirado em factos reais, Submissão trata o caso de uma mulher violada pelo próprio marido e da sua luta por justiça. Uma história exemplar, que serve de reflexão não só para a condução de processos semelhantes como de denúncia do sexismo e da discriminação de género muitas vezes presente no sistema penal. O filme, sem exagerar no tom melodramático, vale sobretudo pelas boas intenções éticas e sociais. Com Iolanda Laranjeiro, Maria João Abreu, João Catarré, Marcantonio Del Carlo > 117 min
3. Sem Deixar Rastos, de Jan P. Matuszynski
A Polónia a ajustar contas com a sua história recente, num filme que retrata um caso marcante do início dos anos 80, quando havia indícios de abertura do regime comunista (tolerando movimentos como o Solidariedade). Um jovem é morto à pancada na esquadra, e a única testemunha ocular enfrenta um longo processo, contra tudo e contra todos, para que a justiça seja feita. Um filme perturbador e inquietante, revelador dos métodos e subterfúgios do regime de Jaruzelski. Com Jacek Braciak, Sandra Korzeniak e Tomasz Zietek > 106 min