O DocLisboa faz 20 anos, mas são muito mais do que 20 os motivos para acompanhar esta edição daquele que se tornou um dos mais importantes festivais de documentários da Europa. Logo na abertura, houve um momento especial e irrepetível: Telegrama, performance de Lula Pena a anteceder Terminal Norte, o mais recente filme de Lucrecia Martel. E a encerrar, a estreia na realização de Acácio de Almeida, lendário diretor de fotografia do cinema português (e europeu), na companhia de Marie Carré: Objetos de Luz é, ao mesmo tempo, um olhar retrospetivo sobre o seu percurso e uma reflexão sobre a própria luz.
Entre os filmes portugueses (e são mais de quatro dezenas), uma chamada de atenção para Onde Fica Esta Rua? Ou Sem Antes nem Depois, de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, estreado em Locarno, com os realizadores a percorrerem os passos e os sítios de Verdes Anos, de Paulo Rocha, filme fundador do cinema novo português.
O realizador em foco desta edição é o brasileiro Carlos Reichenbach, homenageado pelo Doc dez anos depois da sua morte. O festival vai mostrar obras suas emblemáticas, e de culto, como Lilian M, A Ilha dos Prazeres Proibidos ou Falsa Loura, mas também objetos híbridos e desafiantes, como Audácia!, que retrata e desconstrói o próprio cinema novo brasileiro.
Há muito mais para ver: uma retrospetiva sobre a questão colonial, com filmes raros e pouco vistos acerca do processo de descolonização; o “cinema de urgência”, que inclui filmes de um minuto de jovens ucranianos em tempo de guerra (alguns deles vão estar presentes para um debate); as ligações do cinema à música e a outras artes, como a pintura, a dança e a literatura, na secção Heart Beat.
A secção Riscos, uma das mais longas do festival, inclui filmes da brasileira Ana Carolina (bem a propósito do Brasil atual) e do francês Éric Baudelaire. E no programa Da Terra à Lua, destaque para Trilogia do Martírio, com a presença do realizador Vincent Carelli, que pôs os indígenas da Amazónia a filmar as suas próprias histórias. Neste DocLisboa há, também, novos filmes de realizadores consagrados como Werner Herzog, Sergei Loznitsa, Frederick Wiseman e Oliver Stone, este último com JFK Revisitado.
O DocLisboa assinala duas décadas com 281 filmes de 54 nacionalidades, incluindo 44 documentários portugueses. O Brasil está em destaque, com as retrospetivas de Carlos Reichenbach, Ana Carolina e a Trilogia do Martírio (na foto) de Vincent Carelli.
DocLisboa > Culturgest, Cinema São Jorge, Cinemateca e outros locais de Lisboa > 6-16 out > programa completo em doclisboa.org