James Nachtwey costuma dizer de si próprio: “Não sou um fotógrafo de guerra, sou um fotógrafo antiguerra.” Ele documentou todos os grandes conflitos das últimas três décadas, desde o genocídio no Ruanda (é dele o impressionante retrato de perfil de um rapaz com a face marcada por catanadas) à guerra no Iraque. A dimensão do seu trabalho é tal que, além de estar presente nas coleções de museus de arte contemporânea, tem quatro doutoramentos honoris causa em universidades norte-americanas. Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, Nachtwey, hoje com 74 anos, quis mais uma vez testemunhar a guerra para que esta não seja esquecida. Parte desse trabalho, que o fotógrafo ainda não expôs em nenhum lado, poderá ser visto em Coimbra, no âmbito do Prémio Estação Imagem, o único concurso de fotojornalismo que se realiza em Portugal e Espanha.
A edição deste ano, com o apoio da Câmara Municipal de Coimbra, é dedicada aos fotojornalistas da Ucrânia, “como manifestação de apoio à resistência do seu povo face à invasão”: cinco das seis exposições são sobre a guerra e, destas, quatro de fotógrafos ucranianos. Do programa constam aulas abertas de jornalismo dadas por João Silva, fotógrafo de guerra que trabalhou durante anos para The New York Times, visitas guiadas, projeção de filmes e a cerimónia de divulgação dos vencedores de 2022 do Prémio Estação Imagem, que distingue trabalhos de reportagem em oito categorias.
AS EXPOSIÇÕES
“Cerco a Mariupol”, de Evgeniy Maloletka e Mstyslav Chernov
Um dia depois do ataque a Mariupol, esta foto de Evgeniy Maloletka desmentiu o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, que assegurara não terem sido atingidos alvos civis. A imagem do fotógrafo ucraniano, que trabalha para a AP, mostra uma grávida (que acabaria por morrer) a ser retirada da maternidade. Ele e o colega Mstyslav Chernov foram os últimos repórteres de imagem a sair da cidade. Galeria Pinho Dinis – Casa Municipal da Cultura
“Êxodo”, Exposição coletiva
Mostra do trabalho que 14 fotógrafos de agências noticiosas (entre elas uma da Ucrânia) realizaram documentando a partida de cerca de sete milhões de ucranianos que deixaram as suas casas por causa da invasão russa. Teatro Gil Vicente
“Os insubmissos”, de James Nachtwey
“A barbárie e a insensatez do ataque russo são inacreditáveis, mesmo quando vejo com os meus próprios olhos”, escreveu o multipremiado fotojornalista James Nachtwey quando estava na Ucrânia, entre fevereiro e março. “Pessoas ‘comuns’ continuam a demonstrar uma coragem e uma determinação extraordinárias, se não mesmo teimosia, diante da imensa perda de vidas e destruição.” Esta é uma exposição inédita, produzida pelo fotojornalista especialmente para Coimbra. Sala da Cidade – Câmara Municipal de Coimbra
“O último reduto”, de Dmytro Kozatskyi
Cercada pelas tropas russas durante 80 dias, a siderurgia Azovstal, onde se refugiara o batalhão Azov, da Guarda Nacional da Ucrânia, foi o último foco de resistência em Mariupol. O que se passou lá dentro foi documentado por Kozatskyi, 26 anos, fotógrafo-soldado do batalhão Azov, até ao momento em que foi capturado pelos russos. Kozatskyi continua preso. Galeria Pinho Dinis – Casa Municipal da Cultura
“O inverno vermelho de Bucha”, de Daniel Berehulak
As consequências de um mês de terror em Bucha, cidade nos arredores de Kiev, documentadas por um fotógrafo que trabalha regularmente com The New York Times. “A morte e a destruição não foram o pior que os ocupantes russos deixaram para trás”, lê-se no texto de apresentação da exposição. Há uma visita guiada com o autor no próximo dia 17, às 16h30. Edifício Chiado
VISITAS COMENTADAS: Neste sábado, 17 de setembro, haverá duas visitas guiadas a não perder: uma com James Nachtwey, autor da exposição Os Insubmissos (15h30), na Sala da Cidade, e outra com Daniel Berehulak, autor de O Inverno Vermelho de Bucha (16h30), no Edifício Chiado – Museu Municipal de Coimbra.
Prémio Estação Imagem > Vários locais de Coimbra > 13 set-6 nov > grátis