As imagens parecem carregar a brisa marítima. Algures na Costa Brava, na Catalunha, esconde-se a idílica casa de férias da família de Nora, afastada do turbilhão de Lloret del Mar. Este poderia ser um verão igual a qualquer outro, com muitos mergulhos na piscina e no Mediterrâneo, brincadeiras com tios e primos, convívios à volta da mesa, mas os problemas entre os pais da adolescente ensombram a temporada balnear. Contudo, uma visita vem distraí-la: a de Libertad, filha de Rosana, a empregada doméstica colombiana que há 10 anos cuida da avó, agora com demência avançada. Durante esse tempo, Libertad manteve-se na Colômbia sem ver a mãe, e a adaptação a esta mulher quase desconhecida, cuidadora carinhosa de outros, bem como a uma nova realidade, não se afigura fácil. A amizade entre as jovens cresce e ajuda a passar os dias, ainda que as duas sejam completamente diferentes: uma é tímida e superprotegida; a outra, atrevida e rebelde.
Pela primeira vez, Clara Roquet assume as rédeas da direção de uma longa-metragem, após ter começado a carreira no cinema como guionista (aqui, também é responsável pelo guião). Estreada em Cannes na Semana da Crítica, Libertad levou-a à conquista do prémio Goya de melhor jovem realizadora. A cineasta catalã escolheu filmar uma região que conhece muito bem e onde passou os verões da infância e adolescência. Ao encanto do cenário junta a sátira social, vincando os contrastes entre as classes e as hipocrisias no tratamento que os patrões dão aos serviçais, de quem falam como se fossem “quase da família”. Uma linguagem de afetos que, muitas vezes, esconde abusos e injustiças, revelados com sensibilidade por Roquet e interpretados como “gente grande” pelas atrizes Nora Navas (que conquistou o prémio Goya de melhor atriz secundária) e Maria Morera Colomer.
Libertad > De Clara Roquet, com Maria Morera Colomer, Nicolle García, Nora Navas > 104 min