Começa com uma família branca, rica, de férias num resort de luxo sul-americano, que, mais do que entediada, está no estado de letargia típica de quem apenas encontra refúgio da realidade num ecrã de telemóvel. Têm tudo, não se divertem com nada. E acaba como se inicia, num regresso ao vazio, a uma cadeira desocupada num terraço – uma imagem limpa, estilizada, silenciosa, como se fosse um quadro de Hopper (sim, Hopper não pintou apenas a cidade).
O silêncio, interior, reflexivo, traça a linha invisível com que se monta este filme do mexicano Michel Franco, apresentado na última edição do festival de Veneza. E é essa subtileza formal que torna Crepúsculo tão interessante. Franco filma o desencanto.
Tim Roth e Charlotte Gainsbourg são dois irmãos de férias, juntamente com os dois filhos dela, em Acapulco, no México. A notícia da morte da matriarca faz com que a família faça as malas e se dirija ao aeroporto para apanhar um voo de regresso a Londres, só que Roth finge ter perdido o passaporte. E fica a deambular pelas ruas de Acapulco, a tentar ser anónimo no meio do frenesim turístico da cidade: ruas movimentadas, praias cheias de pessoas, bares e mesas na orla do mar.
Numa destas ruas, Roth conhece uma mulher que trabalha numa loja, interpretada pela mexicana Iazua Larios. Envolve-se com ela, como poderia ter-se deixado levar por quem quer que se tivesse interessado por ele.
A câmara filma Roth com apagamento, mostra-nos uma visão triste, muda, daquela azáfama de cidade à beira-mar que se esforça por sobreviver à custa dos turistas estrangeiros. A razão deste mutismo vai-nos sendo mostrada ao longo do filme por pequenos interlúdios, imagens de céu azul e de pele que apenas no final saberemos compreender, e que nos permitirão rever mentalmente o filme em flashback e admirar-lhe o propósito.
Veja o trailer:
Crepúsculo > De Michel Franco, com Tim Roth, Charlotte Gainsbourg, Albertine Kotting McMillan, Samuel Bottomley > 93 min