1. Competição Nacional

Apesar da enorme qualidade dos filmes estrangeiros, a Competição Nacional continua a ser o prato-forte do Curtas de Vila do Conde, até porque foi através dela que emergiram alguns dos grandes realizadores portugueses da atualidade. Este ano, podem ser vistos pela primeira vez em Portugal os novos filmes de Sandro Aguilar, Filipa César, Vasco Saltão, André Godinho, André Guiomar, José Niza Ribeiro ou a estreia na realização da atriz Margarida Vila-Nova.
Em particular destaque está o cinema de animação, com Ice Merchants, de João González, premiado em Cannes; Garrano, da dupla multipremiada David Doutel e Vasco Sá; e ainda Casaco Rosa, de Mónica Santos, à volta da figura sinistra do inspetor da PIDE Rosa Casaco.
2. Filmes-concerto
A ligação entre a música e o cinema existe desde o seu início, pois mesmo quando as películas não eram acompanhadas de uma banda sonora, a maior parte das salas oferecia música ao vivo para acompanhar a projeção. Na secção Stereo é recuperada e reinventada essa tradição longínqua. Este ano, uma das estrelas internacionais é o norte-americano Steve Gunn que dá música a Visions In Meditation, de Stan Brakhage. O músico catalão Raul Refree revisita Nosferatu, mas, neste caso, também há uma desconstrução visual da obra-prima de Murnau por Pedro Maia. E um conjunto de filmes de José Alves de Sousa, que fazem um retrato do período do PREC na região do Porto, são trabalhados musicalmente por um quinteto de jazz composto por Rodrigo Amado, Hernâni Faustino, Carla Santana, João Valinho e Rodrigo Brandão.
3. Carla Simón & C.ª
O Curtas desafia-nos a conhecer a obra completa da catalã Carla Simón. Curiosamente, o título da primeira longa da realizadora, Verão 1993, coincide com a altura em que o festival foi fundado. Será possível ver as suas cinco curtas-metragens, algumas delas no domínio do cinema experimental, que foram trabalhos importantes na construção de uma linguagem própria. Mas também, em antestreia, Alacarràs, a segunda longa da realizadora, que foi distinguida com um Urso de Ouro no Festival de Berlim.
A secção New Voices que, como diz o nome, dá visibilidade a vozes emergentes, traz dois convidados. O espanhol Chema García Ibarra, com um cinema ousado e politicamente consciente; e a francesa Céline Devaux que, além de apresentar as suas curtas, faz a antestreia da longa com coprodução portuguesa Tout Le Monde Aime Jeanne.
4. Cinema revisitado

Todos os anos o Curtas vai ao fundo do baú para nos trazer pequenas pérolas que estão esquecidas na história do cinema. Propõe-nos um ciclo de António Campos, cineasta singular e pouco visitado no cinema português, que está ligado aos primórdios da história do festival. Podem ser vistas sete das suas obras e ainda há espaço para um debate sobre o seu legado.
Também somos convidados a descobrir François Reichenbach, provavelmente o mais oculto dos realizadores da Nouvelle Vague, mas também aquele que mais se dedicou às curtas-metragens. Há um ciclo especial de evocação do centenário do nascimento de Alain Resnais; mostra-se a versão integral de Os Marginais, de Francis Ford Coppola; e, não menos importante, aproveitando o trabalho de restauro do projeto FilMar, ligado à Cinemateca Portuguesa, revelam-se obras histórica e etnograficamente relevantes filmadas em Vila do Conde e nos seus arredores.
5. Da Curta à Longa
O festival quer continuar a acompanhar os “seus” realizadores independentemente do formato dos seus filmes. É por isso que criou a secção Da Curta à Longa, com a antestreia de obras de nomes que fizeram parte do percurso em Vila do Conde. É o caso de José Pedro Rodrigues, presença habitual no festival, onde ganhou vários prémios, que desta vez antestreia a longa Fogo Fátuo. O mesmo se passa com o israelita Navid Lapad que, depois de ter sido o realizador em foco em 2018, está de volta com O Joelho de Ahed. E ainda a brasileira Anna Azevedo, com a longa-metragem Saudade do Futuro.
6. Marie Lavoisier
A Solar – Galeria de Arte Cinemática mantém uma programação regular ao longo de todo ano, mas aproveita o tempo do festival para inaugurar exposições de particular relevância. É o caso da mostra de Marie Lavoisier, nome grande da vanguarda dos anos 60, que se tornou famosa pelos seus retratos em vídeo de artistas nova-iorquinos.
Em Vila do Conde, juntando-se a David Legrand, traz a exposição Excesso Chamalo, com pinturas e vídeo-instalações. Do programa faz parte a performance de Legrand, La Galerie du Cartable, bem como uma carta-branca em que Lavoisier escolhe filmes que foram marcantes no seu percurso.
7. Trinta locais
As curtas vão andar por aí. Para assinalar as 30 edições, o festival escolheu 30 locais diversos, quase todos dentro do próprio concelho. O mais emblemático é o Auditório da Santa Casa da Misericórdia, local onde o Cineclube de Vila do Conde (antecessor do festival) iniciou a sua atividade no início dos anos 90. Como o sistema de som está danificado, vai ser apresentado um programa de cinema mudo, com Chuva, de Joris Ivens e Mannus Franken, musicado por Paulo Praça. Mas o festival decorre em muitos outros sítios como a Pousada da Juventude, o antigo Convento do Carmo, a praia do Mindelo ou as Escadas da Passagem entre a Praça José Régio e a Rua do Lidador.
Curtas de Vila do Conde > 9-17 jul > vários locais > Programa completo em festival.curtas.pt