São diversos os pontos de entrada que o público pode ter na obra de Julião Sarmento (1948-2021). A exposição Abstrato, Branco, Tóxico e Volátil (título de uma peça de 1997), patente no Museu Coleção Berardo até 1 de janeiro de 2023, reunindo um conjunto significativo de trabalhos, foi planeada com o artista ainda em vida. Também todo o desenho expositivo foi pensado por Julião Sarmento. “Para ele, a relação entre a obra, o espaço e quem a vê era muito importante; fazia sempre os layouts e acompanhava a montagem”, conta Rita Lougares, diretora artística do museu, que seguiu de perto o trabalho da curadora da mostra, a francesa Catherine David, desde 2018, ano em que a exposição começou a ser pensada.
No piso -1 do museu, dividido em 18 salas, há um caminho marcado no chão, sugerindo exatamente a direção que Julião Sarmento queria que fosse seguida na exposição. Naquelas paredes brancas estão as séries que o próprio considerou mais importantes, revelando, em cerca de 120 obras que não estão apresentadas de forma cronológica, o percurso daquele que foi o mais internacional dos artistas plásticos portugueses. “Teve sempre a mesma preocupação, que era refletir sobre a questão da sedução. Considerava que tudo na vida era uma sedução, até criar era uma forma de seduzir. E isso atravessa a sua obra nos temas que foi tratando, como a mulher, a sexualidade, a transgressão, a dualidade, a palavra, mas sobretudo a memória”, diz Rita Lougares. Um trabalho que se estendeu por diversos géneros: pintura, gravura, desenho, fotografia, cinema, vídeo, escultura e projetos site specific…
Veja a galeria de fotos
As obras, algumas nunca antes expostas em Portugal, vieram de coleções privadas e de instituições nacionais e estrangeiras. Há salas que causam um grande impacto, com telas de grandes dimensões, caso das duas onde estão as Pinturas Brancas que atravessam os anos 1990. “Julião não levanta questões nem dá respostas, para ele tudo na vida tem várias respostas”, continua a diretora do museu. “A sua obra é como um teatro da vida em que o espectador é ele próprio um ator, que pode construir novas histórias. Eram estas relações que lhe interessava estabelecer.”
Abstrato, Branco, Tóxico e Volátil > Museu Coleção Berardo > Pç. do Império, Lisboa > T. 21 361 2878 > até 1 jan 2023, seg-dom 10h-19h > €5, sáb grátis