Desde miúda que Clara Azevedo tem o hábito de fazer diários. “Viajava muito com os meus pais, isso é algo que faço quase inconscientemente”, conta. Quando a pandemia começou, propôs-se a fazer todos os dias uma fotografia e a publicá-la no Instagram, estivesse ou não a trabalhar com o primeiro-ministro (Clara foi fotojornalista no jornal Expresso, trabalhou como freelancer e, desde 2016, é a fotógrafa oficial de António Costa). “Tinha noção de que estávamos a viver um tempo improvável e possivelmente marcante, mas não sabia quando ia terminar.” Ao fim de um ano, decidiu encerrar esse diário que haveria de dar origem a um livro. Em 365 Dias que Mudaram as Nossas Vidas (Imprensa Nacional, 132 págs., €25) está uma seleção “difícil de fazer” desse registo fotográfico (100 imagens, sendo que Clara chegou a publicar muitas vezes três fotografias por dia).
Na exposição, na Galeria Santa Maria Maior, em Lisboa, estão 27 fotografias que ganham uma outra escala. Clara Azevedo fala muito no silêncio absoluto desses dias. “A fotografia é um registo incompleto, fica apenas o olhar, mas há uma quantidade de coisas à nossa volta que acontecem”, lembra. Na sala da galeria, sob tetos em abóbada, há quatro fotografias com som. “São os sons do silêncio que eu ouvi quando estava a fotografar. Gosto que as coisas sejam sensoriais e despertem os sentidos.” O percurso da exposição segue a cadência das quatro estações, numa escolha feita com o arquiteto Rogério Cruz d’Oliveira, curador da exposição. “São fotografias que, por alguma razão, me dizem algo mais.” Uma delas é de 18 de março de 2020, e mostra o primeiro-ministro, no Palácio de São Bento, momentos antes de ser decretado o primeiro estado de emergência em Portugal.
Veja a galeria de fotos
365 Dias que Mudaram as Nossas Vidas > Galeria Santa Maria Maior > R. da Madalena, 147, Lisboa > até 7 mai, seg-sáb 15h-20h > grátis