No ecrã de cinema, conhecemos a poderosa linguagem imagética, a complexidade dos planos, a minúcia estilística, o vanguardismo de Stanley Kubrick (1928-1999) em clássicos como Laranja Mecânica, Full Metal Jackett – Nascido para Matar, ou 2001 – Odisseia no Espaço. Mas o trabalho do Kubrick-fotógrafo não foi mera repérage ou ferramenta utilitária para o futuro percurso cinematográfico – mesmo que as suas fotografias evidenciem já as virtudes dos planos arquiteturais ou do voyeurismo humanista encontrados na obra fílmica. Through a Different Lens – Stanley Kubrick Photographs afirma o norte-americano como um autor capaz de se alçar ao nível dos grandes da fotografia documental do século XX, os que afirmavam o “instante decisivo” e o transformavam em sociologia visual. Kubrick com uma máquina fotográfica na mão é uma testemunha interessada da Nova Iorque do pós-guerra, das cenas instantâneas ou coreografadas aí vividas, das tribos do boxe aos alpinistas sociais, das idiossincrasias e intimismos dos corpos registados por um voyeur assumido.
As fotografias espantam pela maturidade da composição, domínio técnico, capacidade de contar histórias. É que Stanley, a quem o pai ofereceu uma câmara Graflex aos 13 anos, foi contratado como fotógrafo aos 17 pela revista Look – uma concorrente da Life, com milhões de exemplares vendidos. Ao longo de cinco anos, armado com uma Leica IIIc ou uma Rolleiflex, Kubrick criou um espólio com mais de 129 reportagens, 12 mil negativos e folhas de contacto, hoje à guarda do Museu da Cidade de Nova Iorque, do qual saíram estas 132 fotografias dominadas pelo preto-e-branco, muitas inéditas, acompanhadas em Cascais por 41 exemplares da Look. Uma ausência notória? Imagens da reportagem realizada por Kubrick em Portugal, em 1948. Mas há muito que ver.
Through a Different Lens – Stanley Kubrick Photographs > Centro Cultural de Cascais > Av. Rei Humberto II de Itália, 16, Cascais > T. 21 481 5660 > até 22 mai, ter-dom 10h-13h, 14h-18h > €5