Numa parede da Sala dos Fornos do Museu do Chiado pode ler-se, por estes dias, uma frase assinada por José-Augusto França: “Francisco Garcia escolhia antes e aconselhava-se depois, como os colecionadores devem fazer para aprender a sê-lo.” Este é um bom ponto de partida para nos guiar por esse espaço de exposições temporárias. Mas a melhor síntese para este conjunto de cerca de 50 obras foi feita na inauguração, numa expressão repetida pela diretora do museu, Emília Ferreira, e por João Pedro Garcia, filho de Francisco e de Maria Eugénia: “Uma coleção de afetos”.
O ímpeto colecionista do advogado Francisco Garcia (nascido em 1915, no concelho de Oleiros) e da mulher estava muito centrado na arte que se fazia em Portugal no momento das aquisições e na sua relação pessoal com artistas e intelectuais (com destaque para José-Augusto França, uma espécie de padrinho da coleção). Isso dá uma grande coerência à exposição, com o interesse acrescido de podermos olhar, à distância, para um período muito rico das artes plásticas em Portugal (entre os anos 50 e 70 do século XX), marcado por experiências longe da arte figurativa. Os primeiros quadros comprados para a coleção foram, em 1957, Bastidores e Evocação de Florença, de Marcelino Vespeira; a última aquisição aconteceu em 1975: um óleo sobre tela de Rui Filipe. Pelo meio, muitos nomes marcantes integraram este acervo: Fernando Lemos, Júlio Pomar, Almada Negreiros, Lourdes Castro, Noronha da Costa, João Hogan, António Quadros, Eduardo Nery, entre outros.
Dentro da coleção, há um núcleo de gravuras (estão agora expostas 27 de um total de cerca de 70), sinal de “um tempo pioneiro para a história da gravura em Portugal”, nas palavras de Cristina Azevedo Tavares, uma das comissárias da exposição.
Maria Eugénia & Francisco Garcia, Uma Coleção > Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado > R. Serpa Pinto 4, Lisboa > T. 21 343 2148 > até 29 mai, ter-dom 10h-18h > €4,50