O filme começa com um ritmo de montagem típico de um teledisco, curiosamente não ao som de um tema das Doce, mas antes de Perigosa, sucesso das Frenéticas, de Rita Lee. Tudo certo. Nada mais natural e coerente do que um filme sobre um fenómeno da música pop recorrer a ferramentas do próprio universo pop para nos seduzir. A partir daí entramos em Bem Bom e sabemos ao que vimos. Mais ainda, os depoimentos usados no pré-genérico esclarecem logo à partida o ângulo procurado pela realizadora, bem como todas as suas contradições.
Bem Bom, na obra de Patrícia Sequeira, vem na sequência de Snu, outro filme de época, e tem em comum um certo tipo de linguagem influenciado pela televisão. Ao mesmo tempo, aparece na senda de Variações, filme de João Maia, que foi um sucesso de bilheteira, Bem Bom teria quase tudo para lhe seguir comercialmente as pisadas, não fossem os constrangimentos causados pela pandemia.
As Doce não têm relevância artística e cultural para a música portuguesa semelhante à de António Variações, mas o seu interesse sociológico é evidente. É por aí que a realizadora avança. As Doce foram um produto comercial calculado e medido por um grupo de empresários da música, todos homens, que quiseram fazer do choque com a sociedade conservadora portuguesa uma fonte de receita. E conseguiram. Patrícia Sequeira descobre aqui uma causa feminista e constrói essa tese ao longo de um filme que, não sendo deslumbrante, se vê com prazer.
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Bem Bom > De Patrícia Sequeira, com Bárbara Branco, Lia Carvalho, Carolina Carvalho e Ana Marta Ferreira > 111 minutos