Durante sete anos – todos os invernos, entre o princípio de fevereiro e meados de março –, Vasco Pinhol vestiu o fato de mergulhador (com muita roupa dentro), pôs a máscara e foi no seu caiaque até perto dos barcos. Já longe da costa, ao largo de Ålesund, na zona de Borgundfiord, local para onde o bacalhau migra para desovar, atirava-se (literalmente) para dentro de água, com temperaturas a chegar, na maior parte das vezes, aos zero graus. Esta região, a meio da Noruega, a maior exportadora de bacalhau para todo o mundo, explica o fotógrafo subaquático português, a viver naquele país há dez anos, “é o único sítio onde, no final de janeiro, os moradores podem ir, no seu barquinho a remos, apanhar bacalhau para comer”.
O resultado desse trabalho mostra-se agora na exposição Em Águas de Bacalhau, patente a partir desta quinta, 20, no Núcleo Central do Taguspark, em Oeiras. Captadas entre 2013 e 2020, nas condições agrestes do mar da Noruega, as 16 imagens selecionadas de um portefólio com mais de três mil imagens, revelam os vários momentos de uma pesca tradicional de bacalhau, feita com anzol de quatro pontas.
Pacientemente, Vasco foi captando, em vários momentos, por vezes dias inteiros, a rotina árdua dos pescadores. “Tinha dias que ninguém pescava nada, outros em que havia muito bacalhau a sair de dentro água”, conta. Eram esses momentos de alegria que também queria registar: “Fotografar pescadores no momento em que o peixe sai da água é o corolário da equidistância milimétrica da nossa humanidade”, afirma Vasco, que já participou noutras exposições sobre o tema, em vários paises.
Os noruegueses chamam ao bacalhau “o ouro do mar” (por razões que ultrapassam a sua cor dourada), por isso Vasco Pinhol resolveu fotografá-lo “como se fosse uma joia”. O português de 59 anos, com uma longa carreira na fotografia em condições extremas, teve momentos assustadores. Um deles, conta, passou-se em alto mar com Stein Magne, professor de pesca: “A dada altura, vi que começam a aparecer bacalhaus cortados ao meio, ou cortados pela cabeça, e gritei-lhe ‘O que é aquilo?’. Ele devolveu-me: ‘Tubarão!’. E eu encolhi as pernas contra o corpo, a pensar ‘mas que é que se passa comigo, que raio estou eu a fazer aqui?'”. Menos assustador, mas igualmente desafiante, foi o momento em que esperava que as gaivotas (na Noruega, são maiores) fossem buscar o pedaço de bacalhau que lançava à água com esse propósito. “O que não esperava era o peixe de grandes dimensões que por ali apareceu”, recorda.
Em complemento à exposição Em Águas de Bacalhau, patente até 16 de julho, Vasco criou o site www.photoceania.com, onde cada fotografia tem um código QR que conta a história de cada imagem. “Esta é a minha forma de expressão, quero tirar a fotografia subaquática do gueto documental. Em vez de mostrar o que vejo, quero mostrar o que penso. É preciso ter respeito pelo mar e por tudo o que nele vive”, diz à VISÃO.
Vasco Pinhol começou a fazer mergulho com 8 anos e a fotografar com a mesma idade. Dez anos mais tarde, aos 18, dedicou-se à fotografia subaquática e continua a fazê-lo, todos os dias, até hoje. “Gostava do que via debaixo de água e não podia mostrá-lo às pessoas, por isso decidi começar a tirar fotografias”. Entre 2017 e 2020, foi cronista da rubrica Nós Lá Fora, no site da VISÃO, que reuniu mais de 20 emigrantes portugueses espalhados pelo mundo, a contar as suas histórias e experiências nos países que os acolheram.
Em Águas de Bacalhau > Taguspark (Núcleo Central) > Av. Dr. Jacques Delors, Oeiras > 20 mai-16 jul, seg-sáb 9h-19h > grátis