Pode dizer-se que o impacto de uma exposição depende sempre, em grande parte, dos interesses, mundividências e referências de quem a vê. No caso desta velvetnirvana, isso é ainda mais verdadeiro. Nas paredes e em algumas vitrines do Pavilhão Branco, o que vemos são sinais, imagens e símbolos como reflexos de um tempo, ícones que evocam mais do que mostram. Há, pois, muito de fetichismo neste percurso, em que os gritos dos pavões lá fora, nos jardins do Palácio Pimenta (mais conhecido como Museu da Cidade), se misturam com canções icónicas do rock do século passado que saem das colunas da galeria.
Quem acompanhou com entusiasmo, sendo contemporâneo ou chegando mais tarde, a (contra)cultura nascida do rock a partir da segunda metade dos anos 60, pode sentir verdadeiras epifanias ao ver toscos pedaços de papel, velhos cartazes ou fotografias antigas. Afinal, estamos a falar da evocação de nomes como Lou Reed, John Cale, Nico e Andy Warhol no universo dos Velvet Underground, Iggy Pop e os seus Stooges, MC5, Patti Smith, Pere Ubu, Joy Division, Talking Heads, Suicide, Ramones, Blondie, Television, Nirvana e muitos mais. E o que vemos? Toda uma iconografia de época que alterna o espírito do it yourself dos punks com ambições artísticas e estéticas mais refinadas (como a célebre capa da banana de Warhol para os Velvet Underground ou os cartazes do mítico clube de Manchester Haçienda).
A exposição velvetnirvana tem curadoria de Miguel von Hafe Pérez a partir de uma coleção particular (de António Neto Alves). Podem, ainda, ver-se contributos nacionais para este imaginário, com destaque para polaroids nunca mostradas de Paulo Nozolino (feitas em Londres, em 1979) e fotografias de concertos dos Sonic Youth e dos Nirvana, respetivamente de Pedro Fradique e Rita Carmo. Este rock feito nos EUA ou em Inglaterra rapidamente deixou de conhecer fronteiras.
Velvetnirvana > Museu de Lisboa – Palácio Pimenta, Pavilhão Branco > Campo Grande, 245, Lisboa > T. 21 583 0010 > até 27 set, ter-dom 14h30-19h > grátis