Os seus graffiti são povoados por mulheres, homens e feras, enredados em espinhos. São obras entre o manifesto pró–Natureza e a pulsão poética, sempre filtrada pelo seu fascínio pela beat generation e por Allen Ginsberg (“esfomeados histéricos nus…”, do poema, Uivo é um “mantra” da artista). A apresentar a sua primeira individual na Underdogs, Tamara Alves confessa à VISÃO sentir “o peso gigante de expor numa galeria tão respeitada”, mas, assume, tal não a impediu de correr riscos.
When the Rest of the World Has Gone to Sleep estica fios há muito lançados: por exemplo, a pintura em tela que a artista faz desde sempre, facto desconhecido para muitos. Há ainda esboços a lápis de cor, que recordam a importância do desenho no seu traço, e aguarelas. “Há dois anos, comecei a pintar em aguarela, técnica associada a certa delicadeza, mas que desconstruí, assumindo o acidente, indo mais longe”, conta.
Há outras fiadas a desenrolar: a vontade de contar uma história com fundo biográfico que começa na noite e na quebra da rotina: (“O que eu faria se todos estivessem a dormir e ninguém a ver o que eu faço?”) É um outro take da sua paixão pelo instintivo, pela emoção animal, que estende à relação amorosa. E há também, aqui, um reflexo da sua obsessão por Crash, de David Cronenberg (filme sobre a fixação erótica de reconstituir acidentes de carro por prazer, aqui evocado), pelo empoderamento das mulheres (“representadas como animal, lobo, predador, em vez dos estereótipos que as colocam como presas”), pelos lobos como personagens. Tamara juntou-lhes um tema novo: os carros. Mas descobriu, a preparar a exposição, que também este era um fio antigo como um instinto: “O primeiro mural que alguma fiz representava um carro na neblina da noite.”
When the Rest of the World Has Gone to Sleep > Galeria Underdogs > R. Fernando Palha, Armazém 56, Lisboa > T. 21 868 0462 > até 7 mar, ter-sáb 14h-20h > grátis