Poderia ganhar o título de thriller mais lento do mundo, mas Alva, a longa-metragem de estreia de Ico Costa, é sobretudo a história de um homem só em situação-limite. Oferece-nos um cenário agreste e rural, escondido das luzes da cidade, para contar uma história que parte de um isolamento extremo para um crime, um assassínio premeditado, à queima-roupa, numa aldeia do Interior de Portugal. Do crime regressa para o mesmo isolamento, mas com outras condicionantes: escondido, em fuga. Porém, mais do que a polícia, o verdadeiro antagonista é a consciência e a solidão. E ficamos sempre perto do assassino.
Não é, pois, um filme de grandes perseguições, trocas de tiros, fugas e emboscadas. Tudo se passa no interior da personagem. Mas como há a opção radical e realista de deixá-la sozinha durante grande parte da película, toda essa ebulição interior não nos pode ser dada pelo diálogo, apenas através dos seus gestos, movimentos, atitudes e expressões. Ico Costa teve a felicidade de encontrar a pessoa certa para esse desafio exigente. Henrique Bonacho, ator não profissional, que já tinha participado num filme de Susana Sousa Dias, encarna de tal forma a personagem que não só cremos absolutamente na sua veracidade, como até podemos ser levados a pensar, até determinada altura, que se trata de um documentário. Até porque há uma forma de fazer ficção (comum a outros autores da produtora Terratreme) que usa ferramentas semelhantes ao cinema documental, como o espaço para o improviso e uma certa liberdade de movimento da câmara e das personagens.
Apesar de não ser um documentário, é, sem dúvida, um filme que documenta, realisticamente, determinado mundo rural que subsiste e do qual é bom que se fale. Alva, que aqui também pode ser o feminino de “alvo”, é um filme que conquista pela sua aparente simplicidade.
Alva > De Ico Costa, com Henrique Bonacho, 98 min