O novo cinema romeno começou a dar nas vistas há quase uma década e meia com um grupo de realizadores, até então desconhecidos, a ver os seus filmes receberem importantes prémios em festivais e a circularem pelo mundo. Entre as várias características dominantes, havia o retorno a um estilo neorrealista, muitas vezes auxiliado por um quotidiano patusco, com momentos de humor. O que se demorou a entender é que a “forma” romena, o tipo de olhar, não tem de se circunscrever a um contexto mas pode ser transposto para outros géneros e formatos (incluindo, até, a animação). Corneliu Porumboiu, um dos grandes nomes dessa “primeira” geração do novo cinema romeno (com 12:08 A Este de Bucareste, de 2006) aplica todo o seu estilo e o seu charme a um thriller.
A Ilha dos Silvos tem como base estrutural uma ideia fantástica: a língua de assobios praticada ancestralmente pelos nativos da Gomera, pequena ilha das Canárias, que no caso se torna essencial como linguagem de código de uma pequena máfia. Em parte do filme, assistimos ao protagonista, um polícia cinquentão e careca de Bucareste, a aprender a assobiar em romeno
O encanto de Porumboiu está logo à partida neste casting. O protagonista não é um glamoroso James Bond, apetrechado de tecnologia e irresistível para as mulheres, é antes um anti–herói com a ambição de se tornar vilão. Contudo, o filme não deixa de ter outros ingredientes-tipo: uma máfia luxuosa que fala espanhol e uma mulher arrebatadora (Catrinel Marlon é uma espécie de Penélope Cruz romena). Mais importante do que isso é a transposição para esta história de agentes infiltrados, informação e contrainformação os detalhes do quotidiano que marcam o novo cinema romeno e o tornam tão próximo e tão intenso. Tal como nos seus filmes anteriores, podemos aqui voltar a afirmar: os romenos têm a deliciosa capacidade de saberem rir-se de si próprios.
A Ilha dos Silvos > De Corneliu Porumboiu, com Vlad Ivanov, Catrinel Marlon, Rodica Lazar > 97 minutos