Começou no fado, passou pelo cante até já foi ao Brasil, mas talvez nunca se tenha afastado tanto da sua zona de conforto como o fez no último disco, editado no final do ano passado. Ou, se calhar, nunca António Zambujo se tenha aproximado tanto dela, revelando-se tão musical e pessoalmente como agora o fez. Em entrevista dada, então, à VISÃO, dizia que “devemos estar sempre à procura de novos desafios e não nos deixar deslumbrar pelo sucesso”, algo fácil de acontecer e até, convenhamos, bastante compreensível, tendo em conta a carreira do músico e cantor alentejano.
Dois anos depois da homenagem a Chico Buarque, materializada no álbum Até Pensei que Fosse Minha e na digressão com o mesmo nome, que então percorreu os dois lados do Atlântico, o artista voltou aos discos com uma nova abordagem, explorando algumas das suas maiores referências, mas até hoje pouco visíveis no seu já longo percurso. Do Avesso é, assim, o que se convencionou chamar “álbum ambicioso”, no qual a simplicidade lo-fi “do indie e da folk” – palavras do próprio – coabita na perfeição com as orquestrações mais eruditas da Sinfonietta de Lisboa. Pelo meio, percebem-se, também, referências cada vez mais óbvias a alguns dos seus maiores heróis musicais, como Caetano Veloso, The Beatles ou Tom Waits, num conjunto de “exotismos vários”, agora apresentado ao vivo, em dois palcos que António Zambujo tão bem conhece: os coliseus do Porto e de Lisboa, onde, uma vez mais, tornará tudo isto em algo tão natural como o que já antes cantou.
António Zambujo > Coliseu do Porto > R. Passos Manuel, 137, Porto > T. 22 339 4940 > 23 fev, sáb 21h30 > €22 a €45