Com a miríade de ofertas do mundo contemporâneo, será hoje muito difícil imaginar o impacto que uma só série de espetáculos foi capaz de ter em Portugal, no início do século XX. A tournée nacional dos Ballets Russes, a companhia de Sergei Diaghilev, alongou-se de 13 de dezembro de 1917 a 3 de janeiro de 1918. Um mês de muita dança e polémica, a que ninguém ficou indiferente. A sociedade conservadora da época zurziu nos jornais, enquanto a vanguarda artística, na qual pontuavam Fernando Pessoa e Almada Negreiros, se sentiu acompanhada. A passagem acabou esquecida quando Diaghilev seguiu para Espanha, mas perdurou na memória coletiva dos criadores portugueses, sobretudo durante o Estado Novo. É esse verdadeiro furação artístico que se evoca na exposição Os Ballets Russes: Modernidade Após Diaghilev, numa iniciativa de várias instituições: Galeria Millennium, Universidade Católica Portuguesa e cinco museus europeus, incluindo dois portugueses (Chiado, Teatro e Dança).
Com a preocupação de ligar o passado e o presente, a mostra divide-se em três núcleos. Um sobre os próprios Ballets Russes, com muitos pormenores (interativos) sobre o dia a dia dos bailarinos, os dilemas por que passaram em solo luso, as inovações dos seus bailados e a influência que exerceram em várias expressões artísticas. Num segundo momento, Vasco Araújo revisita este legado em 150 desenhos. No terceiro núcleo, o único que se exibe fora da Galeria Millennium, no Museu Nacional do Teatro e da Dança, regista-se, em documentos da época, o estrondo que se fez sentir em Portugal, com o entusiasmo e a intervenção de Almada Negreiros em grande plano. São cartazes, gravuras, fotos, poemas, diários e notícias de um tempo único, feito de movimento e escândalo.
Os Ballets Russes > Galeria Millennium > R. Augusta 96, Lisboa > T. 211 131 682 > Até 29 set, seg-sab, 10h-18h > gratuito> Museu do Teatro e da Dança > Estrada do Lumiar 10, Lisboa > T. 217 567 410 > Até 29 set, ter-dom, 10h-18h > €3