O mágico português, 36 anos, a viver em Los Angeles, nos Estados Unidos, termina a digressão do espetáculo “Ponto de Fuga” no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, de 19 a 21, depois de ter passado por Lisboa, Troia, Leiria e Estarreja. No regresso à cidade natal, Hélder Guimarães – que foi consultor no filme Ocean’s 8e ensinou truques às atrizes Sandra Bullock e Cate Blanchett – contou à VISÃO Se7e como será este espetáculo sobre vilões e vigarices:
O Porto recebe o final da digressão de “Ponto de Fuga” em Portugal. O que pode o público esperar?
O espetáculo tem muito a ver com o universo de burlas e vigarices que tenho andado a trabalhar nos últimos anos, não como burlão ou como vigarista, mas como estudioso. Há um episódio particular que conto no espetáculo que, no fundo, é a historia que vai unindo todas as demonstrações e temas dos quais vou falando. Essa história, de alguma forma, permite-me ir relacionando o publico sobre o que é bom e mau. Depois, há o outro lado de entretenimento puro. Tenho a certeza de que [o público] se vai rir em alguns momentos, vou chamar algumas pessoas para participar.
Não me diga que vai “roubar” alguma carteira do público?
Mais ou menos (risos). Mas há um momento em que se fala de como isso é feito. Há um lado educacional, em que as pessoas aprendem como se podem proteger de algumas dessas coisas simples do dia-a-dia.
Quer dar-nos algum exemplo?
Quando somos abordados por um estranho na rua para nos pedir uma assinatura para qualquer coisa. Até que ponto é que não é possível usar isso para fins menos corretos. Tenho quase a certeza de que toda a gente sai do espetáculo a saber algo novo. Por exemplo, aprendem como devem guardar coisas nos seus bolsos, como é mais fácil ou difícil roubar algo que está no bolso de alguém.
Qual é o cenário que tem em palco?
Pouca coisa: uma mesa de jogo, uma cadeira, uma mesa de apoio com alguns objetos, um copo, uns papéis, um baralho de cartas, uma caixa, um cavalo de xadrez porque há um momento sobre uma espécie de vigarice feita no xadrez.
Tem um objeto que leva sempre para os seus espetáculos?
O baralho de cartas acompanha-me sempre.
O que é que o levou a estudar estes comportamentos sobre burlas e burlões?
Quando fui para os Estados Unidos conheci pessoas que faziam vigarices na mesa de jogo, os chamados batoteiros profissionais. Uma coisa levou à outra e comecei a ver as técnicas que eles usavam, tanto na mesa de jogo como na própria rua. E os conceitos não são nada diferentes dos que uso para fazer um espetáculo que deve ser só de entretenimento. Algumas dessas coisas são extremamente inteligentes. Há, até, uma certa arte em conseguir juntar algumas peças do puzzle e criar uma ilusão perfeita da realidade. Foi isso que me levou a querer perceber como é que agem estas pessoas, o que sabem que eu não sei, até para abrir o meu leque de possibilidades enquanto mágico, performer e criador. Não tenho intenções de roubar ou de vigarizar ninguém, mas há pessoas que naturalmente o fazem ou que a vida os levou para esses campos. Os bons nem sempre são bons e os maus nem sempre o foram.
E em Portugal, como é esse panorama?
A maior parte da pesquisa que fiz foi nos Estados Unidos, onde existe essa figura de con artist (vigarista) que cá não existe. Lá, socialmente, um con artist é quase aceite como um herói, porque, com poucos recursos, conseguiu manipular a realidade para seu proveito próprio.
Foi consultor no filme Ocean’s 8, onde trabalhou com as atrizes Sandra Bullock e Cate Blanchett. O que lhes ensinou?
Ensinei-lhes como é possível roubar coisas dos bolsos ou das carteiras e a fazerem algumas coisas com cartas para perceberem a destreza manual… Há uma cena no filme em que cada uma das atrizes diz sobre outra, que está a fazer algo com cartas: “Ela é muito boa”. O que a guionista e o realizador [Gary Ross] queriam que eu passasse era o que significa ser bom, onde está a perícia a fazer aquilo? E o lado da psicologia: estas coisas que ensino no espetáculo, como é que as pessoas são vigarizadas e porque certas burlas funcionam ou não. Esse lado de como se constrói uma narrativa que, sendo falsa, parece verdade, é uma coisa que faço como mágico, e tinha andado a estudar porque me interesso por este universo. Era o que queriam que eu transmitisse às atrizes.
Procura vir a Portugal com regularidade com um espetáculo seu?
Para o ano não devo vir a Portugal. Tenho a estreia de um espetáculo em Los Angeles, em maio. Poderei estar dois anos sem vir cá. Mas sem dúvida que é importante para mim manter esta ligação. O publico português é muito bom. A maioria das pessoas que me acompanha sabe qual é o meu registo. Eu não faço aquele tipo de magia que as pessoas estão mais habituadas a ver. Para mim a magia é como a música. Toda a gente gosta de musica, mas nem toda a gente gosta de toda a música.
Ponto de Fuga > Teatro Sá da Bandeira, R. Sá da Bandeira, 108, Porto > 22 200 3595 > 19-21 jul, qui-sáb 21h30 > €18