Zizek tem uma frase em que diz “é mais fácil imaginar o fim do mundo do que imaginar o fim do capitalismo”. São, precisamente, esses os dois caminhos que a nova criação de Cláudia Dias se propõe explorar. Quarta-Feira: O Tempo das Cerejas começa com umas letras brancas projetadas sobre fundo preto, onde se lê: “Novo paradigma na política monetária mundial/ dólar americano deixa de ser indexado ao ouro”; depois passa para: “1972/ Nixon chega ao poder nos EUA”. O espetáculo, integrado no festival Alkantara, apresenta uma cronologia que vai dos anos 70, década em que nasceram os elementos da equipa que faz esta peça, rumo ao futuro, até 2041, ano em que se assinalarão os 200 anos da Comuna de Paris, considerado o primeiro governo operário da História.
“Nessa cronologia começamos por apresentar factos do passado e esses factos relacionam-se com duas questões fundamentais: por um lado, a implementação do programa neoliberal que começou com o 11 de Setembro do Chile, esse grande tubo de ensaio saído da escola dos Chicago Boys, e, mais tarde, essa experimentação feita pela Margaret Thatcher, o mesmo programa aplicado nas democracias europeias. Hoje estamos a viver o resultado da implementação desse programa”, contextualiza Cláudia Dias. Projetadas, vamos vendo imagens intercaladas do que se está a passar por dentro e por cima do palco. Ao longo do espetáculo, duas pessoas vão abrindo uma cratera e, em cena, vemos braços e pernas que tentam a custo sair.
Em termos coreográficos, Cláudia diz tratar-se de uma dança possível. “A metáfora da ação tem que ver com esse buraco. Ele tem que ver simultaneamente com a ideia de catástrofe, destruição, a iminência de uma terceira guerra mundial que está aí… Mas esse buraco é, também, a nossa saída; estamos a encontrar um buraco para sair.”
Quarta-Feira: O Tempo das Cerejas > Teatro Municipal Maria Matos > Av. Frei Miguel Contreiras 52, Lisboa > T. 21 843 8801 > 7-9 jun, qui e sáb 19h, sex 21h30 > €12