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Estelle Valente
Os papéis desta peça do alemão Marius von Mayenburg são figuras que vão habitando diferentes corpos, os dos quatro atores que se encontram em palco. Essa permissão, dada pelo dispositivo do teatro, é tornada visível sempre que uma das personagens não se apercebe de que já mudou de corpo e questiona as outras como se elas estivessem a ter atitudes ilógicas. Em Perplexos há espaço para tudo: uma comédia de costumes, o teatro do absurdo, derivações filosóficas (é citada a morte de Deus assinalada por Nietzsche) e até considerações históricas, nomeadamente sobre o nazismo.
Começa assim: um casal acaba de chegar de férias, outro casal tinha ficado de lhes tomar conta da casa, e ele diz, pousando as malas: “Pronto… há correio?” “Eu acho que a premissa disto é a das peças de quatro personagens, da comédia de portas, de costumes. É dentro dessa forma que Von Mayenburg brinca, depois, com todas as convenções do teatro. No fundo, parodia um pouco o teatro pós-dramático”, diz a encenadora, Cristina Carvalhal. “Ele vai quase abolir as personagens. Onde é que elas estão, no meio disto tudo? Onde está a narrativa, a quarta parede? Quanto mais convencional for a forma mais nos iremos surpreender por os elementos que a integram não funcionarem como estávamos à espera.”
Noutra peça, A Pedra, o dramaturgo alemão questiona o papel da memória na construção da História. No caso, a herança nazi do povo germânico. “Em Perplexos, Von Mayenburg vai mais longe. Como se dissesse: e se não houvesse memória? Se tiras os referentes todos, fica o quê?”, defende a encenadora. “Acaba por ser uma peça muito política, porque esta ideia de não haver passado torna tudo absurdo: se não há passado, o presente pode ser qualquer coisa. E isso é uma irresponsabilidade política por parte dos cidadãos, do país, do mundo em que habitamos.
Perplexos > São Luiz Teatro Municipal > R. António Maria Cardoso, 38, Lisboa > T. 213 257 640 > até 6 mai, qui-sáb 21h, dom 17h30 > €12-€15