O mais famoso libertino da História serviu de inspiração, não só a Molière, mas a muitas outras figuras ao longo dos séculos, de Bernard Shaw a Mozart, de Tirso de Molina a Lord Byron. Este espetáculo, com dramaturgia e encenação de Luís Miguel Cintra, recorre a uma tradução de cordel portuguesa, resgatada do séc. XVIII, em que se omite o nome de Molière. “É mais uma adaptação, tanto que a história é modificada [terminando em casamento], sem que haja indicação nem de autor nem de tradutor”, conta o encenador. Cintra remistura esta e a versão do dramaturgo francês, junta-lhes outras referências culturais (populares e eruditas, clássicas e contemporâneas) e deixa-se contagiar pela busca de total liberdade de Don Juan. Um D. João Português acompanha a sua procura por um lugar onde se possa entregar aos prazeres mais simples, com as conversas com o fiel Esganarelo a agregarem questões como a relação com Deus, o sentido da vida, a morte, o amor.
O formato road movie do espetáculo também contagiou o processo de trabalho, com residências artísticas a decorrerem, em 2017, em quatro cidades (Montijo, Setúbal, Viseu e Guimarães), sempre com ensaios abertos ao público. As apresentações integrais seguirão o sentido inverso (primeiro Guimarães e Viseu, depois Setúbal, a 23 e 24 de fevereiro e Montijo, nos dias 2 e 3 de março; Almada, a 10 e 11 de março, soma-se à lista). O espetáculo divide-se em duas partes. Na primeira noite, o público assiste aos blocos Na estrada (da vida) e O mar (e de rosas); na segunda decorrem As árvores (dos desgostos) e A escuridão ao fim da estrada. Luís Miguel Cintra escolheu 18 atores (com Dinis Gomes e Duarte Guimarães nos papéis principais) com quem já tinha trabalhado, mantendo “o caráter de espetáculo de grupo” de que, diz, gosta muito. A “família Cornucópia”, novamente reunida em palco.
Um D. João Português > Teatro Viriato > Lg. Mouzinho de Albuquerque, Viseu > T. 232 480 119 > 26-27 jan, sex-sáb 21h30 > €10 (bilhete conjunto para as duas noites)