É com uma máquina de cortar presunto e um dispensador de azeite antigos, cedidos pela Manteigaria Silva, que se dá início à visita guiada pela exposição Lojas com História, que inaugura esta quinta-feira, 7, na Rua da Conceição, número 134, em Lisboa. “Antigamente havia quem comprasse desde uma colher a um centilitro de azeite”, explica-nos Miguel Marques dos Santos, do Departamento de Património Cultural da autarquia de Lisboa, responsável pela montagem desta mostra. A dois dias da inauguração, havia ainda muitas peças para arrumar nas nove salas expositivas. Na entrada,já se podia ver o mapa onde estão assinalados os 81 estabelecimentos que fazem parte da exposição inserida no projeto Lojas com História, criado pela Câmara Municipal de Lisboa em fevereiro de 2015. Também aqui estarão dois vídeos com uma série de filmes documentais, com testemunhos sobre a atividade de cada uma destas lojas.
“Esta exposição é o culminar de um trabalho iniciado em 2015, com o levantamento das maior parte das lojas mais relevantes da cidade de Lisboa. Queríamos sobretudo mostrar e realçar a atividade de cada uma delas”, conta Miguel Marques dos Santos. “Destina-se ao grande público, por isso, os textos, dos cartazes, criados para este fim não pretendem ser científicos”, acrescenta. Em paineis, com texto e fotografia originais, e com objetos antigos, mostra-se um pouco da história destas 81 lojas que se destacam pela atividade, património e contribuição para a história de Lisboa. “Começamos pelas lojas centenárias, mas a tentativa e erro levou-nos a incluir outras. Todas elas têm mais de 25 anos”, explica o curador.
Ainda no rés-do-chão, mas noutra sala, fala-se das pastelarias e dos cafés mais bonitos e emblemáticos da cidade. Ali estão vários objetos: um grande tacho em cobre e um funil usados ao longo de muitos anos nos Pastéis de Belém; a máquina de moer café do início do século 20, d’A Carioca, e a máquina de cortar bacalhau, ainda em uso pela garrafeira e mercaria fina Manuel Tavares, fundada em 1860; as latas e a máquina de carimbos da Conserveira de Lisboa; o painel publicitário original da Casa Pereira da Conceição, especialista em chás e cafés.
Já no piso superior, na sala Lisboa Vaidosa, agrupam-se sapatarias, luvaria e chapelaria, mas também ópticas e ourivesarias. Aqui arrumam-se moldadores de cabeças da Chapelaria Azevedo Rua, umas luvas dos anos 30 da Luvaria Ulisses e um par de sapatos em pele da Sapataria do Carmo, só para dar três exemplos. Na sala Lisboa à Mesa, podem ver-se os cartazes e peças dos restaurantes e bares lisboetas, como o Casanostra e o Pavillhão Chinês, os dois estabelecimentos mais recentes da lista de 81 Lojas com História.
Ao lado, há espaço para o Galeto, projetado pela dupla de arquitetos Bento d’Almeida e Vítor Palla, inaugurado em 1966, e para as três lojas de ginja, a Ginjinha Rubi, Ginjinha Sem Rival e A Ginjinha (Espinheira), entre tantos outros lugares dedicados aos sabores.
Galeto
Luís Aniceto e Miguel Saavedra
Em Tudo tem remédio, espreitam-se os brinquedos do Hospital das Bonecas que se mantém no mesmo edifício onde começou em 1830 com a atividade de venda de bonecos e de outros briquedos tradicionais. Ali ao lado, a máquina de fazer supositórios da Farmácia Normal e o escarrador da Farmácia Morão roubam a atenção.
Na Sopa de Letras, estão representadas duas livrarias, a Ailllaud e Lello e a Ferin. Nesta última, encontram-se alguns livros antigos, entre eles, o Guia das Estradas 1902-1903, que Miguel Marques dos Santos considera ser “o primeiro GPS da História”. Seguem-se os Vícios de Lisboa, com as tabacarias e casas de jogo, onde se retrata, por exemplo, a Tabacaria Martins, fundada em 1897, por Manoel Francisco Nunes Martins, recém chegado da Beira.
Continuando a visita, em De tudo um Pouco arrumaram-se lojas com diferentes tipos de negócio: A Espingardaria Central A. Montez, a Primeira Casa das Bandeiras e a Florista Pequeno Jardins, entre outras. Na Lisboa dos Ofícios, estão “as lojas que têm associada uma fábrica ou oficina, por isso, encontram-se a Casa Forra e a Caza das Vellas Loreto, uma das mais antigas desta exposição (a par com o Café Restaurante Martinho da Arcada)”.
“Esta exposição deve-se em grande parte à colaboração dos lojistas. Sem os seus objetos a mostra ficaria aquém do desejado”, termina Miguel Marques dos Santos.
Lojas com História > R. da Conceição, 134, Lisboa > 7 set-25 nov > ter-sáb 12h-18h30 > grátis
