Não há um percurso rigoroso de visita à Galeria da Biodiversidade, de portas abertas desde junho de 2017, na Casa Andresen, no Jardim Botânico do Porto, onde Ruben A. e Sophia de Mello Breyner Andresen brincaram. E não há um itinerário rigoroso porque tudo é tão infinitamente belo, que tanto nos detemos na diversidade dos ovos e ovoides – “uma metáfora para a origem da vida”, como nos conta o biólogo Nuno Ferrand, numa visita guiada – como olhamos os três mil caracóis da mesma espécie, sem que encontremos um igual, ou paramos junto à peça estrela da casa: o esqueleto da baleia (com 15 metros de comprimento).
“É uma casa de memórias”, vai dizendo o biólogo e grande impulsionador deste primeiro polo do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto que, um dia, após ter lido o conto Saga, incluído no livro Histórias da Terra e do Mar, sonhou que o esqueleto da baleia fosse armado naquele átrio. “O desejo de Sophia” como lhe chamam, faz-nos pensar, pois, “como Sophia teria imaginado a baleia, que parece estar a emergir neste átrio tão grande como o mar”, alude o biólogo. A primeira semana de abertura ao público da Galeria da Biodiversidade, que tem recebido cerca de 500 visitantes por dia, está a superar as expectativas. “Não estava à espera”, confessa Nuno Ferrand.
Contávamos em cima que aqui tudo é infinitamente belo. Desde a vitrina com dezenas de ovos e ovoides, divididos por tamanhos, cores e formas. À que representa todas as raças de cães existentes no mundo (cerca de 400) e que descendem de uma única espécie, o lobo (que se encontra, iluminado, ao centro). À representação das diferentes sementes de plantas “que os portugueses levaram pelo mundo” e que constituem a base da nossa alimentação, ou à vitrina que nos mostra um exemplar de todos os comprimidos existentes nas farmácias portuguesas.
Há, ainda, espaço para interagir e brincar. Mesas onde identificamos morangos, laranjas, gengibre ou maçãs através do olfato, brincamos com ovos ou escutamos, sentados numa cadeira, diante do esqueleto da baleia, a diferença entre os batimentos cardíacos deste mamífero gigante e os de um ratinho anão (o mamífero mais pequeno do mundo) e cujo esqueleto minúsculo temos em frente – o coração da baleia bate seis vezes por minuto, enquanto o do ratinho bate mil a cada 60 segundos.
Nas salas em volta do átrio central, exemplifica-se, com a ajuda de veados e pavões, a teoria da evolução por seleção natural de Darwin num planeta “onde temos oito a dez milhões de espécies diferentes”. Noutras, vemos a diversidade de cores das plantas do Jardim Botânico, cujas folhas foram transformadas num pequeno herbário, os tais três mil caracóis listrados, da mesma espécie, mas em que um não é igual ao outro, a visão e os sentidos da cobra, abelha, coruja, falcão ou vaca, ou a camuflagem dos animais.
Quase no final desta viagem pela vida, espera-nos Charles Darwin, sentado, com dois coelhos ao colo – um deles de Porto Santo, na Madeira, animal muito estudado pelo cientista inglês nas suas teorias sobre a evolução das espécies. E, claro, Sophia de Mello Breyner, numa sala do piso inferior, celebrando a diversidade de línguas no mundo enquanto se escutam alguns dos seus poemas lidos por Ana Luísa Amaral.
A Galeria da Biodiversidade é, sobretudo, uma lição de vida. E a confirmação, como diz Nuno Ferrand, que “qualquer espécie deve ser preservada pelo simples facto de existir”. Este Centro da Ciência Viva “reflete todas as áreas do saber da Universidade, cruzando a ciência e a literatura”. E, continua o biólogo, a mensagem que nos deixa é que a vida “vale a pena ser conservada porque é exuberante e bela”.
Galeria da Biodiversidade > Casa Andresen, Jardim Botânico do Porto, R. do Campo Alegre, 1191, Porto > ter-dom 10h-18h > €5/adultos; €2,50 (5-18 anos); €14/bilhete família; <4 anos grátis