Alvin Straight, personagem de Straight Story, de David Lynch, preparou um trator para fazer uma visita ao seu irmão doente, que vive noutro estado. É um road movie lento. Mais lento do que esse só o Fátima, de João Canijo, em que as personagens se deslocam a pé. Road movies há para todos os gostos e velocidades, depende das personagens e dos veículos. O de Michel Gondry, Micróbio e Gasolina, é dos mais escanifobéticos. Em parte, por causa do veículo, que não é um carro, nem uma bicicleta, nem sequer um trator. Antes, uma coisa em forma de assim, que faz lembrar as endiabradas construções de As Corridas mais Loucas do Mundo. Uma verdadeira geringonça que se parece com uma casa com rodas, sem ser uma roulote.
A essência é comum a muitos filmes do género: a viagem física é apenas a carapaça de um viagem interior, que faz com que no regresso a casa os indivíduos já não sejam os mesmos. O verdadeiro destino da viagem é a autodescoberta. No plano de fundo, uma história de bullying ou, pelo menos, de inadaptação social em plena adolescência. Daniel é demasiado pequeno para a sua idade, pelo que lhe chamam de Micróbio; Théo, o novo aluno, é demasiado louco e engenhocas, pelo que lhe chamam de Gasolina. Criam o seu próprio veículo, deixam para trás tudo e todos e fazem-se à estrada, numa aventura imprudente (como são todas), em direção ao maciço central francês.
Nem se revela um daqueles filmes de grandes aventuras na estrada, a esse nível até desilude. As peripécias são curtas e não muito empolgantes. Mas é mais uma peça que se encaixa na recente filmografia recente do realizador francês. Um feel good movie, que talvez não seja assim tão inocente quanto parece.
Micróbio e Gasolina > de Michel Gondry, com Ange Dargent, Théophile Baquet, Audrey Tautou, Laurent Poitrenaux > 104 min