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O filme, cuja estreia europeia aconteceu em março no Parlamento Europeu, baseia-se no romance mais célebre da literatura do Azerbaijão, Ali e Nino, assinado em 1937 pelo misterioso pseudónimo Kurban Said
Um mito da história da luta pela independência do Azerbaijão é o pretexto de Ali e Nino, uma coprodução azerbaijana e britânica, com um elenco tão internacional que parece patrocinado pelas Nações Unidas. Inclui o israelita Adam Bakri, a espanhola María Valverde, o italiano Riccardo Scamarcio, a dinamarquesa Connie Nielsen, o iraniano Homayoun Ershadi, o turco Halit Ergenç e, entre outros, o americano Mandy Patinkin. O realizador, Asif Kapadia, é inglês de origem indiana.
Ali e Nina conta uma história de amor e guerra, entranhada na elite política e financeira azerbaijana do início do século XX. Uma região rica em petróleo que sonha ser o primeiro país de maioria muçulmana com um um estado laico e democrático. Isto é, envolvido numa espécie de algodão doce, que é a grande história de amor entre um príncipe e uma princesa. A paixão entre o príncipe mouro Ali, descendente de uma das grandes famílias de controlo petrolífero, e a princesa cristã ortodoxa Nino, da elite financeira georgiana é o fio narrativo por onde o filme se cose.
O obstáculo a la Romeu e Julieta do impedimento familiar (até por motivos religiosos) revela-se o mais fácil de ultrapassar, comparando com o facto de parecer que o mundo inteiro resolveu travar uma sangrenta guerra só para lhes estragar o romance. A Primeira Guerra Mundial nunca chega a solo azerbaijano mas implica a participação militar e monetária do território. Sobretudo, a nação ressente-se drasticamente do fim do sonho da independência ditado pelos Bolcheviques numa impiedosa invasão, já que os soviéticos consideravam que a revolução não se fazia sem o petróleo do Azerbaijão. A Independência só se veio a concretizar após a queda da URSS.
O filme tem todos os ingredientes para se tornar empolgante, entre as emoções da guerra e do romance, mas revela demasiado plástico. Há um excesso de ocidentalização das personagens que as torna pouco credíveis, e os próprios atores não se conseguem superar ao ponto de serem convincentes.
Há filmes, como Patterson, que fazem de um singelo motorista de transportes públicos uma grande história. Ao invés, Ali e Nino transforma uma grande história com contornos épicos, num fogacho com um insípido registo televisivo, do género “batam-me, mordam-me, mas não me estraguem o penteado…”.
Ali e Nino > de Asif Kapadia, com Adam Bakri, María Valverde, Mandy Patinkin, Riccardo Scamarcio > 100 minutos