Segundo as previsões, os Oscars deste ano deverão ser disputados entre o musical La La Land, e o drama social Moonlight, sendo Manchester by the Sea o outsider com mais possibilidades. La La Land e Moonlight apresentam propostas diametralmente opostas. Se o primeiro é um pastiche dos musicais dos anos 40, 50, 60, com cores saturadas, boa banda sonora e argumento leve e vazio; o segundo é uma história visceralmente social, que fala sobre droga e homossexualidade, no contexto do mais pobre dos bairros negros americanos, onde a criminalidade é a única possibilidade de ascensão social. Donald Trump levaria Melania a ver La La Land, mas não veria Moonlight nem que lhe apagassem a conta do Twitter. E, no final de contas, esse até pode ser um trunfo na corrida aos Oscars, pois sabe-se bem que a Academia é tendencialmente Democrata, e não têm faltado exemplos de afrontas ao radicalismo do Presidente.
Mas a surpresa de Moonlight ter chegado tão longe é enorme: trata-se da primeira longa-metragem de Barry Jenkins e serve também de resposta à recorrente acusação de haver poucos nomeados de raça negra. Sendo a temática politicamente incorreta, poderá muito bem tornar-se o mais correto prémio político a atribuir. Não que o filme mereça assim tanto: é capaz do melhor e do pior, como acontece muitas vezes nas primeiras obras.
Moonlight acompanha a vida de um rapaz franzino e amaneirado desde a infância até à idade adulta. Assistimos ao seu crescimento frágil num ambiente inóspito, onde ele é repetidamente vítima de bullying, até chegarmos à sua abrupta “gangstarização”. A mensagem basilar, aqui provada e comprovada, é uma doutrina de esquerda: a culpa é da sociedade, se queremos resolver os problemas sociais temos que agir socialmente. A que se junta uma ideia evangélica de que só o amor pode salvar o mundo. Assim, Jenkins não hesita em fazer uma humanização dos rufiões, descobrindo por baixo da carapaça de ferro, um manancial de afetos. Tudo isto é tratado cinematograficamente de forma muito estilizada, com uma câmara irrequieta e alguns excessos. Nos primeiros cinco minutos do filme o espectador corre o risco de ficar enjoado, mas depois lá se habitua ao balanço.
Moonlight > de Barry Jenkins, com Mahershala Ali, Shariff Earp, Duan Sanderson > 111 min