em Isto é uma Tragédia parte-se do cliché da tragédia grega, com colunas e escadarias, para tentar descobrir qual é o lugar ocupado, hoje, por ela
Joana Dilão
“Horrível é morrer. Isso é que é terrível!”, diz-se no palco repleto de adereços desconexos. “Mas isso não é um problema, é um facto”, responderá alguém. Afinal, “a vida é que é um problema”. O texto de José Maria Vieira Mendes é uma longa conversa entre temas banais e brutais que ajudam a questionar a relação de cada um com a tragédia, ou melhor, com a ideia de tragédia. “A realidade é diferente para cada um, não é propriamente uma coisa coletiva”, explica o artista Vasco Araújo, cocriador do espetáculo, juntamente com a Cão Solteiro e um dos cinco atores em palco.
Neste ensaio para uma possível tragédia a que assistimos em Isto é uma Tragédia parte-se do cliché da tragédia grega, com colunas e escadarias, para tentar descobrir qual é o lugar ocupado, hoje, por ela. Terá a tragédia perdido os valores imutáveis de outrora? Terá ela progressivamente passado para o plano pessoal? Não se promete nenhuma resposta.
Ao longo do espetáculo, vão sendo abertas caixas com os mais inesperados adereços lá dentro. Este processo de descoberta não está apenas presente na cenografia, já que, no texto, também há espaço para o improviso.
“A tragédia grega era civilizadora. Impunha barreiras às pessoas através da arte. Mas na verdade não servia de muito, tal como acontece com aquilo a que hoje chamamos de tragédia. Passaram-se dois mil anos e estamos no mesmo sítio”, defende Vasco Araújo. E se a existência não faz qualquer sentido… “Vamos embora”.

Ao longo do espetáculo, vão sendo abertas caixas com os mais inesperados adereços lá dentro
Joana Dilão
Isto é uma Tragédia > Teatro Municipal Maria Matos > Av. Frei Miguel Contreiras, 52, Lisboa > T. 21 843 8801 > 17-20 nov, qui-sáb 21h30, dom 18h30 > €5 a €12