As irmãs Clara e Solange (as atrizes Joana Africano e Teresa Arcanjo) brincam constantemente ao faz-de-conta para fugir à malfadada rotina de empregadas domésticas. Mal a patroa (Cristina Carvalhal) se afasta, aproveitam para experimentar os seus vestidos e joias, alternando entre si representações de poder e de submissão. O rancor e ódio alimentado ao longo de anos de maus tratos leva-as a planear obsessivamente a morte da sua senhora. Mas a própria relação fraterna não é pacífica. A peça de Jean Genet, normalmente associada a uma denúncia das desigualdades sociais, não é encarada aqui como um manifesto político. “Este espetáculo é sobre as tentativas de nos libertarmos da clausura através da imaginação”, diz Simão Do Vale, o encenador.
Com esta coprodução com o Teatro Nacional S. João, a associação Subcutâneo prossegue o ciclo dedicado ao universo feminino, agora a partir do microcosmos do quarto da senhora. As diferenças de classes são vincadas em pormenores como o direito à intimidade. “A senhora pode ser apaparicada, ao passo que as criadas têm de partilhar o mesmo quarto e vivem a intimidade de forma muito perversa”, conta Simão Do Vale.
O texto original de Jean Genet ganha uma tradução inédita de Luísa Costa Gomes. “Esta é uma versão mais cristalina”, defende Simão Do Vale. “Trata-se de uma peça difícil de desenlaçar, muito compartimentalizada. A história não é prioritária, é preciso arrumá-la e seguir a força das personagens”, sublinha. O registo de humor negro é especialmente apreciado pelo encenador. “Há uma realidade dura e violenta e, ao mesmo tempo, com muita graça.” Salve-nos o humor.
As Criadas > Teatro Carlos Alberto > R. das Oliveiras, 43, Porto > T. 22 340 1910 >13-22 mai, qua 19h, qui-sáb 21h, dom 16h > €10