Pintor excelentíssimo, Jorge Pinheiro é um ziguezague capaz de provocar vertigens a historiadores que gostem de gavetas arrumadas. Ainda jovem artista (e co-fundador d’ Os Quatro Vintes, com Armando Alves, Ângelo de Sousa e José Rodrigues, todos finalistas com 20 valores das Belas-Artes do Porto), dedicou-se à pintura figurativa. Depois, influenciado pela Europa dos anos 1960, cheia de correntes e contracorrentes pictóricas, criou quadros-objetos e telas com formas tiradas a régua e esquadro. Em 1973, nova guinada: regressa a um figurativismo dominado por mãos em prece e revisões de ícones (cria, então, a famosa série Os Reis). Vinte anos depois, a exploração abstrata reocupa-lhe o atelier. A vintena de obras agora mostradas, produção recente, ainda que haja obras datadas de 1969, distribui-se por cerca de 14 telas e oito desenhos – todos oficiantes do abstracionismo geométrico. Os desenhos revelam-se minimais, risco negro de tinta da china sobre o papel, a representarem ora desdobramentos ora curto-circuitos, tensos. As pinturas exibem o seu característico virtuosismo cromático, cores que estabelecem diálogos de toda a ordem, rompendo a linha dominante, criando profundidades insondáveis, criando paisagem infinita. O abc geométrico é declinado: círculos, linhas paralelas, triângulos que geram outros triângulos – parecem origamis. E o que mais lá está? Memórias pop, composições que lembram sinaléticas, barcos a voar, sexta-feira de paixão, Penélope à espera de Ulisses.
De Tempos a Tempos IV > Galeria São Mamede > R. da Escola Politécnica, 167, Lisboa > T. 21 397 3255 > até 25 mai, seg-sex 11h-20h, sáb 11h-19h