![O Impromptu de Versalhes ©Filipe Ferreira (21).jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/8897356O-Impromptu-de-Versalhes-%C2%A9Filipe-Ferreira-21.jpg)
Filipe Ferreira
O palco está bastante descarnado e, como cenário, apenas umas estruturas de madeira, algumas com um material que devolve a imagem – uma alusão à Sala dos Espelhos do Palácio de Versalhes, há de dizer-nos mais tarde o encenador Miguel Loureiro que, nos 170 anos do Teatro Nacional D. Maria II, leva à sala Garrett a comédia O Impromptu de Versalhes, de Molière. A “bolacha” no centro do palco rodará por diversas vezes e também subirá à vista de todos. Aqui, os mecanismos do teatro usam-se sem cerimónias. Os atores, esses, entrarão pela plateia e na primeira fila ficará sentado o dramaturgista que interromperá a cena sempre que for necessário – “a interrupção é como o teatro dentro do teatro dentro do teatro…”, dirá a certa altura. Ao fundo do palco, estará Cristina, o ponto desta peça, que se fará ouvir pelo microfone quando a memória dos atores de Molière falhar. Em O Impromptu de Versalhes, o dramaturgo do século XVII, mais do que retratar a sociedade, retratou-se a si, aos atores e aos encenadores e à vida na corte de Luís XIV: um encenador e a sua companhia a tentarem preparar um espetáculo para o rei em muito pouco tempo e sempre a lidarem com interrupções e contratempos. Miguel Loureiro olha para este texto – um “divertissement” escrito por Molière – como “um documento precioso sobre o que seria o teatro naquele tempo”. “Esta peça é uma celebração do teatro e do ator”, descreve Miguel Loureiro, “é um verdadeiro mapa das relações humanas e do trabalho na construção de um espetáculo de teatro”. Com Rodrigo Abecassis Fernandes (o dramaturgista na primeira fila) e a atriz Vera Kalantrupmann, o encenador (e também ator) quis levar para o palco este texto mas juntou-lhe outros do mestre da comédia e ainda, diz, “coisas nossas” – “coisas” que nos trazem para os dias de hoje, referências mais ou menos pessoais que não desvirtuam a peça mas aproveitam o embalo para falar do que é isto de hoje fazer teatro. Em cena, pisca-se o olho ao (des)acordo ortográfico, brinca-se com a linguagem, fala-se em “cómédias”, “espetadores”, “redículo”, “aCções”, “ojolhos” e por aí fora. “Gosto muito de Molière, mais até do que de Shakespeare. Molière está arreigado aos jogos teatrais, à comédia, ao maneirismo e à afetação. Na pesquisa para esta peça, descobri materiais deliciosos, podia ficar até aos 80 anos a encenar Molière”, afirma Miguel Loureiro, que assume a preferência por um teatro de “gesto largo, traço grosso e nonsense sem saída”. E agora, três pancadas, que a peça vai começar.
![O Impromptu de Versalhes ©Filipe Ferreira (12).jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/8897355O-Impromptu-de-Versalhes-%C2%A9Filipe-Ferreira-12.jpg)
Filipe Ferreira
O Impromptu de Versalhes > Teatro Nacional D. Maria II > Pç. D. Pedro IV, Lisboa > T. 21 325 0800 > 13-30 abr, qua 19h, qui-sáb 21h, dom 16h > €5 a €17
![O Impromptu de Versalhes ©Filipe Ferreira (9).jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/10/8897360O-Impromptu-de-Versalhes-%C2%A9Filipe-Ferreira-9.jpg)
Filipe Ferreira