Foi a observar o seu sobrinho e a sua mãe enquanto avó que Rita Cruz teve a ideia de recolher testemunhos sobre essa relação “tão especial e ternurenta” que se cria entre as duas gerações – e de transformar depois isso numa peça de teatro. No Centro de Dia – Obra Social Madre Maria Clara, em Algés, ficou longas horas à conversa, ouviu histórias de outros tempos, de antes do 25 de Abril, de como tinha sido a adaptação à cidade de quem vinha “da terra”, escutou canções antigas, percebeu as solidões e, sim, o que é isso de ser avó ou avô. “São os segundos cuidadores e criam uma relação de amizade única com os netos”, nota a dramaturga e encenadora, que entrevistou sobretudo mulheres. Deste trabalho documental e de relatos particulares nasceu a peça Mãe com Açúcar, do Teatro do Elétrico, um monólogo interpretado pela atriz Tânia Alves, que também contribuiu com os pormenores da sua relação com a avó de 100 anos. “Fizemos uma homenagem a essas pessoas tão importantes para nós”, resume Rita Cruz. “O belo da terceira idade é a forma como se contam histórias com uma carga emocional forte mas de forma lúdica, isso é muito rico”, sublinha. Em palco, a avó Tânia Alves fala com a sua neta, brinca, partilha vivências e conselhos, recorda o antigamente e o marido já falecido, lembra os tempos em que não havia água nem luz, nem muito menos televisão, e a família se reunia ao serão… “Quis fazer uma peça bem disposta, com sentido de humor e sem cair em comiseração, tal como fazem os avós”, diz Rita, que continua o trabalho no Centro de Dia, agora a dirigir um ateliê de teatro direcionado para a terceira idade.
Mãe com Açucar > De Rita Cruz > Com Tânia Alves > Teatro Taborda > Costa do Castelo, 75, Lisboa > T.21 885 4190 > 30 jan-4 fev, sáb-qui, 21h30 > €5 a €10