Perante um São Carlos a abarrotar de gente, Olga Roriz sentiu-se estonteada. “Desde já agradeço a presença de todos os que vieram até aqui, para ver este documentário, que ainda por cima vai passar na televisão daqui a uns dias”, afirmou, junto ao palco, assim que a última imagem passou naquela imponente sala, num grande ecrã, e só depois de os aplausos, dados por uma plateia em pé, terem cessado. Como deixar passar tal acontecimento, quando se trata de um dos nomes maiores da dança contemporânea nacional?
Este novo documentário, de uma hora, sobre o percurso artístico de Olga Roriz, acompanhou o dia a dia da construção de um espetáculo da bailarina e coreógrafa portuguesa, desde a génese até à sua estreia num palco internacional. Em setembro de 2022, Pas d’Agitation, performance-instalação de dança e vídeo, inspirada no tema dos mares e oceanos, revelava-se no Carreau du Temple, em Paris.
Lembremos aqui que Olga Roriz integrou o elenco do Ballet Gulbenkian, de 1976 a 1992. Foi depois diretora artística da Companhia de Dança de Lisboa e, em 1995, fundou a sua própria companhia, a que chamou de Olga Roriz. Habituados a vê-la ora em palco, ora atrás dele, no seu papel de coreógrafa, neste documentário de proximidade é possível conhecer outra faceta da artista, mais descontraída, e recorrendo várias vezes ao humor para desfazer a pressão do dia-a-dia. Percebe-se também que a cumplicidade entre os bailarinos faz a diferença.

Cristina Ferreira Gomes, realizadora, à frente da produtora Mares do Sul, e aqui responsável também pelo argumento, em coprodução com a RTP2, seguiu Olga Roriz durante dois anos, o que a levou a passar pelos Açores (que belas imagens daquele mar bravio e daquele céu plúmbeo), Lisboa e Évora, num “percurso intimista pelos mundos criativos e intensos” da artista minhota de Viana do Castelo, com 68 anos.
Percebe-se que este acompanhamento foi intenso, pelos planos aproximados e pelas revelações feitas. só é pena ter apanhado a época da pandemia e ainda serem visíveis máscaras em várias etapas da criação artística – realidade que hoje já nos parece tão distante e despropositada.
À realizadora juntou-se Luiz Antunes, bailarino, coreógrafo e investigador, autor e responsável pelas entrevistas do documentário. Note-se que a mesma dupla criativa já assinou um documentário sobre Vera Mantero e outro dedicado a Clara Andermatt, este último com estreia prevista para 27 de abril, também na RTP2. Um enorme salve a este canal, pela aposta em produtos de alto nível cultural. A sua diretora, Teresa Paixão, fez questão de se juntar a todos os que não quiseram falhar a antestreia, enchendo a sala do São Carlos.
Olga Roriz > RTP2 > Estreia 6 abr, sáb 22h > 60 min