Logan Roy dá novos significados à expressão “instinto assassino”. Chegou aos EUA quando este país ainda era povoado por “gigantes gentis a cheirar a leite e ouro”, fundou um império de média e, agora, passando pelos 80 anos, quando toda a gente o vê como um velho ultrapassado, Logan não se comporta como um touro enraivecido – ele é mesmo matador. Com um desprezo enorme por aquilo em que os tais “gigantes” se tornaram. “Agora, vejam-nos gordos como o raio, fracos com metanfetaminas ou ioga. Deitaram tudo a perder”, diz ele. A América deitou tudo a perder.
Não há absolutamente ninguém por quem este narciso nutra um pingo de empatia – e aqui estão incluídos os quatros filhos, as mulheres que lhe passam pela cama, os “amigos” de há décadas. É um “fuck off” geral. São todos peões do seu jogo económico, do seu vício de negócios e poder, do seu aborrecimento.
É muito fácil ver ali Rupert Murdoch, o todo-poderoso dono da conservadora Fox News. Ainda nesta semana anunciou o seu quinto casamento, aos 92 anos, e os seus quatro filhos fartam-se de esperar pelo momento da sucessão.
Um dia, vai acontecer, seja com Murdoch seja com Logan Roy. Será nesta quarta e última temporada que iremos assistir, finalmente, ao “abate” do extraordinário vilão? “Somos piratas!”, grita Roy num discurso de incentivo aos trabalhadores da sua ATN, o canal de notícias conservador.
Brian Cox, que interpreta a personagem (e ganhou o Globo de Ouro de Melhor Ator em Série Dramática, em 2020), garante que Logan não está a trabalhar para que ninguém lhe suceda. “Oh não! Ele quer uma sucessão. Só está a tentar perceber qual é a pessoa que aguenta a pressão.”
Só que a pressão é desumana e arrasta tudo. A vida pessoal e emocional daquela gente é confrangedora. Pode ser espetacular fazermo-nos transportar por Nova Iorque de helicóptero, ter apartamentos com vista para o Central Park, frequentar festas super exclusivas e ser amigo de celebridades, mas depois ouvir a mãe dizer “não devia ter tido filhos, devia ter tido cães”… Ao pé dos Roy, a família da série Shameless quase parece funcional!
Para terminar – e para quem nunca viu Succession –, esta série não é só negócios e ambiente familiar de cortar à faca. O humor tem aqui um papel fulcral. E a forma inteligente como os “yes-men” são gozados é impagável. Viva o primo Greg e as suas geniais tiradas.
Sucession > HBO Max > Estreia 27 mar, seg > 10 episódios, um novo episódio a cada segunda-feira