Sem pinças, nem paninhos quentes. É assim que Tabu se estreia, neste sábado, 5, na televisão portuguesa. Se, do lado do anfitrião Bruno Nogueira e da produtora Até ao Fim do Mundo, existe toda a capacidade de se conseguirem pôr no lugar do outro, entre os convidados de cada programa prevalece a grandeza de saberem rir-se de si próprios. Combinação ideal para que, no final, aos telespectadores lhes reste uma vénia pela partilha de tanta generosidade.
Tabu é um formato original da televisão belga, criado há quatro anos, que, abordando temas interditos ao riso, na prática é a tentativa mais justa de dar resposta à pergunta: quais são os limites do humor?
Podemos dizer que Tabu se divide em duas partes e que o stand-up comedy final só existe graças à primeira parte. Cada programa centrar-se-á num grupo de pessoas que têm ou vivem com uma condição considerada sensível e vulnerável, como sejam as deficiências físicas, a cor da pele, a obesidade, as doenças mentais, entre outros temas. O que Bruno Nogueira faz é viver uma semana com estas pessoas, partilhando com elas o dia a dia, ouvindo-as e dando voz aos seus problemas, que tantas vezes não passam de barreiras criadas pela sociedade em que estão inseridas.
“Não é a diferença física que impede que possamos brincar com essa pessoa. Não necessariamente de, mas com essa pessoa. E isso é respeitar a sua diferença”, afirma Daniel Oliveira, diretor-geral de Entretenimento do grupo Impresa, sobre o novo programa dos serões de sábado na SIC. “Quando se faz humor sobre alguns temas mais sensíveis, as pessoas que se ofendem normalmente têm muito pouco que ver com o assunto de que se fala”, reforça Bruno Nogueira. “Acredito que escolher não fazer humor sobre certos assuntos é, por si só, uma forma de discriminação. É achar que aquelas pessoas não têm capacidade de ouvir ou de se rir sobre o problema delas.” Recém-chegado aos 40 anos, já lhe dizia a intuição que era assim, mas agora a experiência dá-lhe a certeza.
Sem ferir suscetibilidades

Visionámos 20 minutos do episódio dedicado às deficiências físicas e, num registo muito documental, conhecemos as histórias de Sérgio, paraplégico, Micaela, com pseudoacondroplasia, Luís, sem membros inferiores nem alguns dedos desde nascença, e Inês, com queimaduras e uma perna amputada. Todos falam das primeiras manifestações das doenças, os sintomas, as dores sofridas, o quadro clínico, os internamentos, as operações, mostram próteses, falam de percursos de vida e de sonhos interrompidos – tudo sem ferir suscetibilidades. Relatam-se acidentes, choques e traumas que até já foram ultrapassados.
As descrições são verdadeiros murros no estômago, contadas com a naturalidade e a dose certa de humor. Tabu é um “exercício de inclusão através do humor”, aproveitando-o como género agregador, e conseguimos olhar para estas pessoas sem reservas.
Além de Bruno Nogueira, que pela primeira vez entra num formato televisivo adaptado, também os guionistas Frederico Pombares e Guilherme Fonseca participaram no projeto. Para cada grupo de convidados foi criado um espetáculo original de stand-up comedy, precisamente centrado nas dificuldades do dia a dia, sempre “com a intenção de fazer rir e de ser engraçado, e nunca de chocar”. Na plateia, sentam-se aqueles com quem Bruno partilhou uma semana de vida, mais os seus familiares e amigos, e pessoas na mesma situação. Um pormenor: o humorista consegue ver sempre vantagens, apesar dos problemas, e deixa-lhes um conselho: “É arrebitar.”
Tabu é um carrossel de emoções: em poucos minutos, somos capazes de rir, comover-nos, respirar fundo, voltar a dar uma valente gargalhada. O semblante pode mudar no mesmo minuto. Depois de ouvir as histórias duras de cada um dos convidados, para o humorista, “é um problema de primeiro mundo” quando está menos bem-disposto, ironiza.
Inicialmente, Bruno Nogueira não estava seguro de que conseguisse fazer o programa, mas, num segundo olhar, mais descomprometido, percebeu como o formato lhe interessava por várias razões. É um formato justo, mas que “não funcionaria se fizesse stand-up para uma plateia comum”, salienta. “Talvez se fosse há cinco, dez anos, não teria capacidade para o fazer. Hoje em dia, não só foi desafiante como me acrescentou muito, conhecer as pessoas e as suas realidades, ajuda a relativizar muita coisa, como escrever stand-up sobre temas que, à partida, estão barrados na cabeça das pessoas. É muito libertador. E, para quem está a ouvir, também o é.” Concordamos e aplaudimos de pé.
Tabu > SIC > Estreia 5 mar, sáb 21h45
Bruno na TV: Cinco programas que também foram experiências sociais, com alguma ficção à mistura

1.Os Contemporâneos
Há 14 anos, estreava-se na RTP1 o programa de sketches, escrito por Bruno Nogueira, em parceria com as Produções Fictícias. Personagens como Chato, de Nuno Lopes, ou os “panisgas”, de Bruno Nogueira e Eduardo Madeira, ficaram para a História.
2. Último a Sair
Em 2011, tinham passado 11 anos desde o primeiro Big Brother na televisão nacional, e houve quem não percebesse que esta série se tratava de uma sátira aos reality shows. A participação de Roberto Leal é inesquecível.
3. Odisseia
O que fazem Bruno Nogueira e Gonçalo Waddington a bordo de uma autocaravana, numa viagem pelo País? Deixam-se levar pela realização de Tiago Guedes e divagam, divagam muito, até ao absurdo. Passou, em 2013, na RTP1.
4. Som de Cristal
Depois de nascer o projeto musical Deixem o Pimba em Paz, com Manuela Azevedo, Bruno Nogueira entra no mundo dos cantores populares portugueses. Exibido, em 2015, na SIC.
5. Princípio, Meio e Fim
Em 2021, a SIC estreava uma das mais alternativas e transcendentais experiências televisivas de Bruno Nogueira, escrita pelo próprio com Nuno Markl, Filipe Melo e Salvador Martinha, e interpretada por ele com Jessica Athayde, Albano Jerónimo, Nuno Lopes e Rita Cabaço.