Depois de ouvir uma conversa de café, o ator Almeno Gonçalves ficou a matutar em como muitos portugueses desconhecem um período da nossa História, que vai da implantação da República (1910) até à instituição da ditadura militar, mais tarde o Estado Novo. Falou com o argumentista João Lacerda Matos (a quem se juntaria mais tarde a guionista Raquel Palermo) e com o realizador João Cayatte, e os factos verídicos começaram a inspirar a história de uma família, os Mello, com personagens ficcionadas. “Quisemos mostrar como as pessoas viviam socialmente, como eram as relações entre patrões e criados”, explica o ator que, em Vento Norte, também é produtor e protagonista.
Almeno Gonçalves dá corpo a Afonso, antigo deputado do governo de João Franco, casado com Isabel (Natália Luiza), uma liberal. O confronto entre ambos faz-se de segredos do passado mas também de diferentes visões do futuro, e é através das vidas dos seus três filhos que vários aspetos da sociedade, como as artes, o futebol, a droga e a política, são abordados. Tomaz (Sisley Dias), o mais velho, é um sobrevivente da I Guerra Mundial de regresso a casa. Margarida (Patrícia Pinheiro) é a artista da família, apaixonada por cinema e viciada em cocaína, que revela uma Lisboa dos loucos anos 20. Ricardo (Rodrigo Tomás), o mais novo e o mais problemático, representa uma juventude a despertar, lado a lado, com a criação de um clube de futebol.
Com a ação centrada em Braga, a vida dos empregados do Solar dos Biscainhos, núcleo encabeçado pela governanta Arminda (Margarida Carpinteiro), ganha destaque na trama – “uma parte menos explorada na ficção”, nota Almeno Gonçalves. “Interessava-nos mostrar a ruralidade de Portugal naquela época, sobretudo a norte, no Minho. Havia uma dependência face aos senhorios e às terras; a grande diferença perante o resto do País é a forte vertente religiosa de Braga”, explica. Esta é uma linha da história em que também se fala do aparecimento de comunistas e anarquistas.
Almeno Gonçalves está seguro de que se fosse contada a partir de Lisboa, esta história seria muito diferente da que é dada a conhecer em Vento Norte, a partir de Braga. “Com menos tiros e mais passividade. A força da Igreja, sobretudo do arcebispo Vieira de Matos, foi determinante. Depois da I Guerra Mundial, Portugal está devastado. A instabilidade dos governos reflete–se no poder. No golpe de Estado não há tanto o propósito político, mas militar, como viria a acontecer, mais tarde, com o 25 de Abril de 1974.” Uma lição de História.
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Vento Norte > Estreia 14 abr, qua 21h > RTP1