Parece que estamos a ver um filme americano, daqueles cheios de ação, com polícias de um lado, bandidos do outro e a investigação jornalística a decorrer. Ao longo dos oito episódios de Trafficked – Na Rota do Tráfico, Mariana van Zeller dá a conhecer vários criminosos assumidos que lembram muito as personagens dos thrillers.
A jornalista portuguesa, nascida em Cascais, mas radicada nos EUA há 20 anos, não é uma super-heroína, mas põe-se na boca do lobo por diversas vezes. Na verdade, é a sua atitude de respeito pelo outro e de tratar todos por igual, que lhe permitem estar olhos nos olhos com os maus da fita.
No episódio centrado no tráfico de sexo, Mariana é guiada pelo chefe da polícia de Oakland, na Califórnia, a cidade com mais queixas e casos de lenocínio. Os proxenetas fazem mais dinheiro com as prostitutas do que a vender droga e para as autoridades é mais difícil deslindar essas teias do que casos de homicídio. Mariana circula perto de casa, em Los Angeles – onde mora há uma década com o marido Darren Foster, também produtor e seu braço direito nas investigações –, por bairros como o Figueroa, com dezenas de quarteirões cheios de prostituição. É sempre o dinheiro fácil e rápido o maior atrativo de quem entra nestes esquemas. Uma espécie de estilo de vida que faz com que a economia sexual faça mexer 5,7 mil milhões de dólares todos os anos só nos EUA. “Foi muito difícil ouvir as histórias do que fazem às mulheres, desde arrancar a planta dos pés para demonstrar quem manda”, lembra Mariana. “Só entendendo o porquê chegamos à raiz do que está a levar ao crescimento desses mercados”, analisa.
Desde que começou a carreira como jornalista, Mariana sentiu “uma atração especial por estes underworlds”, pelas “partes mais escondidas da nossa mente”. Interessa-lhe compreender o porquê da situação e de como ali se chegou, mais do que fazer jornalismo imediato e mediático das televisões.
Até há cinco anos, o fentanyl era praticamente uma substância desconhecida, mas este opioide sintético faz agora parte da revolução do negócio da droga nos EUA e merece um episódio. Para Mariana van Zeller era uma mistério como é que os cartéis mexicanos chegam às substâncias químicas para fazer fentanyl em pó ou em comprimidos. É esta a droga (15 vezes mais forte do que a heroína) que mais está a matar nos EUA. No meio do mar presencia como os traficantes apanham os barris cheios de químicos em estado líquido. Dezasseis barris que vão para laboratórios secretos para serem transformados: 350 mil dólares que passarão a valer milhões de dólares quando forem vendidos nas ruas da América. Mariana vai até fim do ciclo acompanhando uma “mula” de transporte na fronteira do México com o EUA, uma das mais patrulhadas do mundo. Uma americana com passaporte válido, carro próprio e grávida não levanta suspeitas. É barrando os pacotes de fentanyl com café, mostarda e amaciador da roupa que conseguem disfarçar o cheiro, de modo a que os cães da polícia não detetem os cinco quilos de droga que leva na mala do carro.
Nos episódios dedicados aos mercados negros dos tigres, da contrafação, da cocaína, dos esteroides, das armas e das burlas denuncia mais uma série de irregularidades e ilicitudes, incluindo os esquemas de fraude de milhões de dólares em que milhares de americanos já caíram. Em Montego Bay, na Jamaica, para lá dos resorts com tudo incluído existe um grande contraste entre os muito ricos que ali fazem turismo e os muito pobres que os servem. As bases de dados dos hotéis e dos call centers de empresas americanas e europeias ali a operarem permitem a muita gente aceder a contactos dos idosos americanos, os preferidos para dar o “golpe da lotaria”. É graças a esta burla gigante que muitos jamaicanos conseguem pagar a água, a luz e a comida.
Uma série documental que mistura verdades inconvenientes com histórias de sobrevivência, com a segunda temporada já na forja.
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Trafficked – Na Rota do Tráfico > Estreia 13 fev, sáb 22h30 > National Geographic