A idade não é um posto, mas Sophia Loren permanece uma atriz deslumbrante e o facto de ter sido escolhida como protagonista de Uma Vida à Sua Frente, pelo realizador Edoardo Ponti (o seu filho mais novo, do casamento com o produtor de cinema Carlo Ponti), parece óbvio. É com um misto de dureza e ternura, dignidade e desalento, que a atriz italiana interpreta o papel de Madame Rosa, prostituta judia que, após a reforma, passou a tomar conta dos filhos das suas colegas de profissão. Sem grandes vestidos, penteados ou maquilhagem sofisticada, Loren – que também não teve uma infância fácil, em Nápoles, durante a Segunda Guerra Mundial – soube identificar-se com a história dura contada no filme, adaptação do romance homónimo de Romain Gary, publicado em 1975, vencedor do Prémio Goncourt e um êxito literário na época.
O filme é narrado por Mohammed (interpretado pelo estreante Ibrahima Gueye), ou Momo, como gosta de ser tratado, um refugiado senegalês de 12 anos, órfão, revoltado, cujos primeiros ímpetos delinquentes não conseguem ser travados pelo tutor, um médico respeitado que o acolheu após a trágica morte da mãe. Desesperado, o clínico pede a ajuda de Madame Rosa que, a contragosto, aceita receber o rapaz problemático no seu apartamento decrépito de um bairro pobre da cidade costeira de Bari. “Uma pocilga”, descreve inicialmente Momo, transformada em refúgio, onde a velha senhora, sobrevivente de Auschwitz, é acossada pelas memórias e pelas maleitas da idade, sobretudo quando se esconde na cave do prédio – que os miúdos interpretam como uma espécie de caverna do Batman.
Madame Rosa procura guiar Momo e afastá-lo das más influências, numa cidade a braços com a crise de refugiados na Europa. A mensagem de tolerância, de respeito e de amizade ganha contornos algo melodramáticos, a puxar à lágrima, mas a força da interpretação de Sophia Loren faz valer cada minuto.
Uma Vida à sua Frente > Já disponível na Netflix