DOCUMENTÁRIOS
Nestas quatro propostas, há vidas e mundo para descobrir, factos reais para relembrar a História e alertas sobre as redes sociais
1. O Dilema das Redes Sociais: A assustadora dependência digital
Estreou-se há poucas semanas e, por ironia, causou um imenso burburinho nas redes sociais. O documentário alerta para o uso excessivo das plataformas digitais, cruzando depoimentos de quem trabalhou nos gigantes de Silicon Valley (Google, Facebook, Twitter, Instagram, Pinterest…) – sobretudo, Tristan Harris, cofundador do Center for Humane Technology e antigo especialista em Ética de Design na Google – com a dramatização do dia a dia de uma família comum, incapaz de se desligar do ecrã. Questões como o funcionamento dos algoritmos, a manipulação do cérebro, a dependência, o impacto na saúde mental, o controlo e a rentabilização comercial dos dados dos usuários, as fake news, a polarização das posições ou a falta de regulação das redes sociais são esclarecidas por quem conhece bem o que se esconde por detrás dos ecrãs. De Jeff Orlowski, 2020, 1h33m > Netflix
2. Santiago, Itália: Baseado no testemunho das vítimas da ditadura de Pinochet, um documentário empenhado de Nanni Moretti
Santiago, Itália baseia-se nas entrevistas realizadas por Nanni Moretti com as vítimas da ditadura de Pinochet. Como realizador empenhado que é, o cineasta italiano pretende estabelecer um paralelismo entre a Itália que, nos anos 70, acolheu esses refugiados políticos com a Itália que, no século XXI, fecha as portas aos migrantes que ousam atravessar o Mediterrâneo. Nos dias quentes do golpe de 1973, a embaixada italiana foi das poucas que acolheram chilenos non gratos, apoiantes do governo de Allende, que (literalmente) saltavam o muro da embaixada. Não sendo a obra-prima de Moretti, Santiago, Itália vale pela memória reconstruída e, claro, pelo próprio statement em fazê–lo agora, nestes nossos tempos estranhos. O cineasta é igual a si próprio: comprometido com o ideal democrático, emotivo, autêntico, sem máscaras. “Eu não sou imparcial!”, responde ele a um dos militares condenados que é entrevistado no documentário. Parafraseando uma célebre frase morettiana (“D’Alema, diz uma coisa de esquerda. Diz uma coisa sem ser de esquerda, de civilização”, Querido Diário, 1993), Moretti diz coisas civilizadas. De Nanni Moretti, 80 minutos > Filmin
3. O Mundo Segundo Jeff Goldblum: Temas comuns explorados por uma mente curiosa
Nesta produção da National Geographic, com 12 episódios, o ator Jeff Goldblum (A Mosca e Parque Jurássico) explora o universo dos objetos, sobretudo ligados à cultura pop. Interessado em tudo o que existe no planeta, o ator e músico, de estatura imponente, aparece a gesticular e, por vezes, até a cantar. Sem querer ser didático, nem professor, e partindo da premissa que não sabe nada, há muita coisa que fascina Goldblum, dos ténis à ganga, dos gelados às joias e tatuagens. E ele quer ficar a saber tudo, ao pormenor. Esqueçam-se, pois, temas como doenças, crime ou política e desfrute-se de um outro mundo, o de Jeff Goldblum, onde não faltam piscinas, café e bicicletas. De Jeff Goldblum e Matt Runner, 12 episódios > Disney+
4. Pavarotti: O homem que levou a ópera ao povo
Goste-se ou não de ópera, ouvir Luciano Pavarotti interpretar Nessun Dorma, uma das árias de Turandot, de Giacomo Puccini, é impactante. E há de ficar no ouvido e na memória de quem assistir a este documentário biográfico sobre a vida do tenor italiano, do realizador Ron Howard. Ao longo de 112 minutos, com a música a ajudar a dramatizar a narrativa, mostra-se o artista, o homem e a voz, através de imagens e entrevistas de arquivo, algumas inéditas, declarações de amigos e colegas de trabalho, como Bono Vox e Plácido Domingo, e de familiares, as três filhas mais velhas, a ex-mulher Adua Veroni e a mulher, Nicoletta Mantovani, – cuja relação chocou o público pela traição ao casamento e diferença de idades. Mais do que relatar a vida do tenor, da infância em Modena até à sua morte, a 6 de setembro de 2007, o documentário revela facetas desconhecidas de Pavarotti, como a dedicação a causas solidárias e, acima de tudo, como se tornou o artista que “levou a ópera ao povo”, a forma como gostava de ser lembrado. De Ron Howard, 2019, 112 min > Filmin
SEGUIR AS ESTRELAS
Cinco histórias protagonizadas por grandes atores, como Nicole Kidman, Jude Law ou Hilary Swank
5. The Queen’s Gambit
Neste thriller psicológico de sete episódios, inspirado no livro homónimo de Walter Tevis, conta-se a descoberta do talento de Beth Harmon (Anya Taylor-Joy) para o xadrez e a sua luta contra a dependência de drogas. Netflix
6. The Undoing
Nesta série de seis episódios, baseada no livro de Jean Hanff Korelitz e com guião de David E. Kelley (Big Little Lies), segue-se a vida, aparentemente perfeita, de Grace Sachs (Nicole Kidman), uma terapeuta de sucesso, e do atencioso marido (Hugh Grant). HBO
7. The Third Day
Sem se cruzarem, Jude Law e Naomie Harris são os protagonistas desta produção dividida em duas partes (inverno e verão) de três episódios. A ilha de Osea, na costa britânica, serve de cenário à narrativa sombria em que realidade e ficção se misturam. HBO
8. Emily in Paris
Do mesmo criador de Sexo e a Cidade, Darren Star, esta série promete entreter e divertir com a personagem de Lily Collins (Emily Cooper), uma executiva de marketing de Chicago que se muda para um emprego de sonho em Paris, onde a esperam muitas aventuras, dramas e paixões. Netflix
9. Away
A atriz Hilary Swank é uma astronauta norte-americana que deixa a família em Terra para liderar uma arriscada missão a Marte. Uma história sobre o distanciamento familiar e as vulnerabilidades de quem se aventura no Espaço. Netflix
OUTROS MUNDOS
Inteligência artificial, novas tecnologias, mitos e ameaças. O universo da ficção exibe-se nesta seleção
10. Raised by Wolves: Uma nova vida dos humanos, noutro planeta
Uma distopia futurista, excêntrica e cáustica, com robôs e naves espaciais, eis um bom resumo de Raised by Wolves. A série, criada por Aaron Guzikowski e com alguns episódios realizados pelo cineasta britânico Ridley Scott, pode bem ser o melhor da ficção científica da última década. É uma história focada em dois androides (um pai e uma mãe) a quem é incumbida a tarefa de criar crianças humanas num planeta árido e feio, depois de a Terra ter sido destruída. Um drama com uma abordagem bíblica, em que há notas de Prometheus e Alien, dois filmes de Ridley Scott, guerras constantes e crenças, nas quais sobressaem os efeitos especiais fantásticos. No entanto, neste lugar inóspito e nada pacífico, que está longe de ser o Jardim do Éden, as lutas entre os humanos são uma ameaça constante à sobrevivência da espécie. Um regresso ao futuro que, certamente, irá prender muitos espectadores ao ecrã. A série conta com a participação, entre outros, de Amanda Collin, Abubakar Salim, Winta McGrath, Niamh Algar e Jordan Loughran. Garantida está já uma segunda temporada. De Aaron Guzikowski, 10 episódios > HBO
11. NeXt: A inteligência artificial como ameaça
Este thriller acompanha a história de um milionário, dono de uma das poderosas tecnológicas de Silicon Valley, quando descobre que uma das suas criações pode vir a ser responsável por uma catástrofe mundial. Expulso da empresa pelo irmão, tem de se juntar a uma equipa de combate aos crimes cibernéticos para conseguir travar o ameaçador programa de Inteligência Artificial. Drama, crime e ficção científica, numa produção com contornos assustadores, capaz de lançar o alerta sobre os perigos do controlo assumido pelas novas tecnologias nas nossas vidas. NeXt é protagonizada por John Slattery (Mad Men) e foi criada por Manny Coto, um dos argumentistas da série 24. De Manny Coto, 2020, 10 episódios > estreia a 6 out > Fox
12. Utopia: A realidade numa história aos quadradinhos
Um grupo de fãs de banda desenhada conhece-se online e descobre que tem em comum o culto pela novela gráfica Utopia. Juntos, os amigos (Ashleigh LaThrop), Ian (Dan Byrd), Samantha (Jessica Rothe), Wilson (Desmin Borges) e Grant (Javon “Wanna” Walton) vão descobrir que a história ficcionada da sua BD favorita tem significados ocultos e perigos reais (um vírus mortal e uma pandemia) com consequências nas suas próprias vidas, e é preciso combater. Inspirada numa série britânica homónima, conta com John Cusack no elenco. De Gillian Flynn, 2020, 8 episódios > Amazon Prime
13.The Walking Dead: World Beyond: A primeira geração pós-apocalipse
Centrada na primeira geração nascida na civilização do pós-apocalipse zombie, o segundo spinoff de The Walking Dead apresenta-se com novas personagens e uma outra mitologia. Criada por Scott M. Gimple e Matthew Negrete, a narrativa de World Beyond segue um grupo de adolescentes – Iris (Aliyah Royale), Hope (Alexa Mansour), Silas (Hal Cumpston) e Elton (Nicolas Cantu) – que deixa a segurança de casa e parte em busca de respostas. Perseguidos por todos, os jovens põem tudo em causa, e, no meio do perigo, ninguém ficará sem respostas, sejam eles heróis ou vilões. De Scott M. Gimple e Matthew Negrete, 2020, 10 episódios > estreia 5 out > AMC
14. The Mandalorian: Viagem ao universo Star Wars
A espera foi longa, mas a aguardada série da plataforma de streaming Disney+ acaba de aterrar em Portugal, um ano após estrear-se nos EUA. The Mandalorian tem como protagonista Diu Djarin (Pedro Pascal), um caçador de recompensas, solitário, que vive no lado oculto da galáxia. Uma delas é uma personagem misteriosa, um inédito Baby Yoda. A primeira série de ação, criada a partir do universo Star Wars, de George Lucas, está muito próxima do western e de filmes de aventura. Mais sombria, esta viagem no tempo continua fantástica, habitada por criaturas especiais, tiroteios a acabarem em desintegrações e cenários inóspitos. Tudo isto aliado ao argumento de Jon Favreau e à banda sonora poderosa que nos transporta de planeta em planeta, de missão em missão, rumo a um verdadeiro faroeste no Espaço. A segunda temporada, nomeada para 15 Emmy, chega a 30 de outubro e mostra que Djarin e Yoda continuam, juntos, a enfrentar inimigos numa era conturbada, após o colapso do Império. De Jon Favreau, 2019, 8 episódios > T2 estreia 30 out > Disney+
DO LIVRO PARA O ECRÃ
De romances a bestsellers da literatura fantástica, passando por retratos incisivos da política dos Estados Unidos da América e do terrorismo espanhol
15. Normal People: Baseada no romance homónimo de Sally Rooney, uma série sobre as relações afetivas dos millennials
Normal People não é tanto sobre “pessoas normais” (o que quer que isso queira dizer…), mas mais sobre as relações afetivas destes tempos. Baseada no romance de Sally Rooney, ganhou o epíteto da série mais falada do verão de 2020. Sucintamente, podemos dizer que os 12 episódios acompanham a história de amor entre dois millennials (e que bem que vão Daisy Edgar-Jones e Paul Mescal!), numa cidade do Interior da Irlanda pós-católica. Deixemos de lado o campeonato (pouco interessante, de resto) sobre se o livro é melhor ou pior do que a série e falemos, antes, do quanto Normal People contém: da incomunicabilidade entre Marianne e Connell que, apesar de se entenderem na cama, nem sempre se entendem noutros contextos, dos muros que as classes sociais ainda representam, do modo como aquela relação também contribui para a definição da personalidade de cada um, da construção social acerca do que é expectável dos homens e das mulheres, da maneira como aquela paixão não os impede de tentarem outros caminhos… E, no fundo, de como tudo isto pode fazer de Normal People um retrato do que está a mudar no amor. De Lenny Abrahamson, com Daisy Edgar-Jones e Paul Mescal > 12 episódios > HBO
16. Mundos Paralelos: Fantasia e muitos efeitos especiais
A milionária adaptação para televisão da célebre trilogia fantástica e de ficção científica, escrita pelo britânico Philip Pullman – Os Reinos do Norte (1995), A Torre dos Anjos (1997) e O Telescópio de Âmbar (2000), lançados em Portugal pela Editorial Presença –, chega a uma nova temporada que desta vez incide sobre a segunda obra da saga. A história dificilmente se conta em poucas palavras, mas assenta num universo alternativo onde os humanos têm companheiros animais chamados daemons, manifestações da alma humana. Vista como uma sucessora do fenómeno A Guerra dos Tronos (embora não tenha alcançado o mesmo sucesso), a série esconde questões políticas, científicas e religiosas. No elenco desta coprodução HBO/BBC, além da jovem atriz Dafne Keen (no papel da órfã Lyra Belacqua), constam os nomes de Ruth Wilson (vimo-la em The Affair) e Lin-Manuel Miranda (o “senhor musicais”). Recorde-se que os livros de Pullman já tinham sido adaptados ao cinema, com o filme A Bússola Dourada. De Tom Hooper, 2020, T2, 8 episódios > estreia em novembro (data a anunciar) > HBO
17. Pátria: Os efeitos do terrorismo no País Basco
Escrita por Aitor Gabilondo e baseada no romance homónimo de Fernando Aramburu, Pátria é a primeira produção da HBO Europa em língua espanhola. Ao longo de oito episódios, disponibilizados semanalmente, acompanha-se a história de duas famílias divididas durante o conflito basco, enquanto tentam lidar com a dor e as contradições morais que a guerra provocou. De um lado está Bittori, a viúva de Txato, homem morto pelos terroristas da ETA, que retorna à sua aldeia natal após o cessar-fogo de 2011 entre o grupo separatista e o governo espanhol. Do outro está Miren, sua antiga vizinha e amiga, mãe de Joxe Mari, um terrorista que acaba de ser preso e é suspeito dos piores receios de Bittori. Conseguirá esta viúva conviver com aqueles que a perseguiram antes do ataque que desfez a sua família e com quem lhe matou o marido? De Aitor Gabilondo, com Susana Abaitua, Iñigo Aranbarri, Ane Gabarain, 2020 > estreou 27 set, dom > HBO
18. The Comey Rule: As polémicas das eleições norte-americanas
Ao livro A Higher Loyalty, bestseller do controverso James Comey, em que o antigo diretor do FBI descreve a presidência de Donald Trump como um “incêndio florestal”, acresceram mais de um ano de entrevistas a personalidades envolvidas nas presidenciais de 2016. A primeira parte da minissérie segue a investigação aos emails de Hillary Clinton e o impacto que teve nas eleições, enquanto a segunda acompanha os primeiros meses da presidência e a colisão entre Comey e Trump (interpretados por Jeff Daniels e um convincente Brendan Gleeson), que termina na demissão daquele, em 2017. A investigação da influência russa nas eleições, os encontros privados acalorados entre as duas figuras ou o confronto entre a lealdade e a verdade são alguns pontos abordados. O lançamento, pouco antes de novas eleições norte-americanas, não será certamente inocente. De Billy Ray, 2020, 2 episódios > HBO
NAS PEGADAS DA HISTÓRIA
De uma fantasiosa reinvenção da Revolução Francesa aos cenários da Segunda Guerra Mundial, passando pelas emoções da aventura espacial, a História a servir de alimento para a ficção
19. Das Boot
A aguardada segunda temporada da série, a mais vista no canal AMC em 2019, inspirada no filme de Wolfgang Petersen (por sua vez, baseado no livro de Lothar-Günther Buchheim) segue a vida no interior de um submarino alemão, durante a Segunda Guerra Mundial e, ao mesmo tempo, os conflitos entre a Resistência Francesa e as tropas germânicas no porto francês de La Rochelle. Nestes oito novos episódios, o enredo desloca–se também para Nova Iorque, onde se refugia o antigo capitão do submarino. Uma produção internacional impressionante, com o elenco a dividir-se por três línguas. Estreou 29 set, ter > AMC
20. La Révolution
Esqueçam os livros de História. Nesta versão alternativa da Revolução Francesa, porventura influenciada pela pandemia, a personagem principal é Joseph Guillotin, o inventor da guilhotina, que assume a investigação de uma série de crimes misteriosos. A série começa em 1787, dois anos antes da tomada da Bastilha, quando Guillotin descobre um estranho vírus, o sangue azul, a alastrar-se pela aristocracia, que a leva a atacar o povo. Uma produção francesa dirigida por Aurélien Molas, com cenários e figurinos de uma série de época, mas muita fantasia. Estreia 16 de outubro > Netflix
21. Os Eleitos
A série original da National Geographic, baseada no bestseller de Tom Wolfe, The Right Stuff (1979), segue a vida dos pioneiros da corrida espacial nos Estados Unidos da América, do programa Mercury 7. O livro procurava responder à pergunta: Porque foram escolhidos? Transformados em heróis, o interesse à volta das suas vidas e das suas famílias foi tal que eram vistos como estrelas de um reality show. Estreia 9 de outubro > Disney+