Qual a melhor maneira de apresentar um programa de televisão, em modo documentário, sobre os chefes com Estrela Michelin em Portugal? Com metade deles sentados à mesa, a saborearem uma cabidela cozinhada ao momento, claro está, por Vítor Sobral, na sua Peixaria da Esquina, em Lisboa. Mal sabia este chefe, grande defensor da comida tradicional portuguesa, e injustamente sem qualquer distinção por parte do Guia Michelin, que este momento também serviria para dar forma ao 26º episódio da série, que só terminará em maio.
Explique-se: quando começou a ser pensado pelo produtor Ivan Dias, que também já assinara as duas primeiras temporadas de Mesa Portuguesa, há cinco e sete anos, Portugal tinha 26 restaurantes com Estrela Michelin (seis, com duas, e agora são sete com duas), o número perfeito para um formato televisivo. No entanto, já se suspeitava que o alemão Willie Wurger, do Willie’s, em Vilamoura, não fosse embarcar nesta viagem (entretanto, pelo caminho, já perdeu a Estrela). Então, pensou-se que o remate ideal para a série seria um episódio-surpresa sobre o anfitrião deste arroz de cabidela especial. Afinal de contas, Sobral foi consultor – ou curador, como ele prefere designar-se – desta epopeia de gravar com tanta agenda carregada de compromissos. “Ajudou-nos muito nos contactos com os chefes, porque os conhece a todos”, lembra Ivan Dias.
Como entretanto o País colocou mais quatro restaurantes no Guia, o diretor de programas da RTP, José Fragoso, encomendou outros tantos episódios para que todos os chefes fiquem retratados na série
Além desta surpresa, agora revelada, a produção também filmou toda a gala de entrega das novas Estrelas ibéricas, que decorreu a 20 de novembro, em Sevilha. Esse material integrará o tal último episódio especial. E ainda haverá espaço para uma reportagem no primeiro restaurante Michelin que existiu em Portugal, O Escondidinho, ainda está a funcionar na Rua Passos Manuel, no Porto, embora os donos não sejam os mesmos e a Estrela já não exista.
Como entretanto, desde o começo das gravações até agora, o País colocou mais quatro restaurantes no Guia, o diretor de programas da RTP, José Fragoso, encomendou outros tantos episódios para que todos os chefes fiquem retratados na série. Assim, espera-se por 2020 para conhecer melhor o basco Martin Berasategui (Fifty Seconds, Lisboa), o francês Vicent Farges (Epur, Lisboa) e os portugueses Diogo Rocha (Mesa de Lemos, Viseu) e Rui Silvestre (Vistas, Algarve).
A equipa de produção gastou uma semana com cada chefe, primeiro nos bastidores das suas cozinhas, registando a forma carinhosa como tratam e transformam os produtos, sem berros nem tachos pelo ar. Depois, levando-os para fora da chamada zona de conforto. Cada cozinheiro teve de escolher um restaurante de comida portuguesa onde se sentisse bem e afinal percebeu-se que não havia ali qualquer desconforto. Por exemplo, Sá Pessoa, que continua a brilhar com duas Estrelas no Alma, em Lisboa, levou as câmaras atrás de si até à Taberna Albricoque, porque, diz, “gosto muito da cozinha do Bertílio [Gomes].” Já no Algarve, houve dois chefes a baterem o pé, porque escolheram ambos o famosíssimo Noélia e Jerónimo, em Cabanas de Tavira. Se fosse preciso fazer um ranking das melhores tascas por onde andou, Ivan e a sua equipa elegeriam A Tasca do Petrol, em Marmelete, na serra de Monchique, como a vencedora. Foram lá parar pela mão de Louis Anjos, chefe do Bon Bon, no Carvoeiro. E foi precisamente por aí que começou esta história (estreou-se a 27 de novembro, mas ainda só passou este episódio), que quer valorizar a nossa gastronomia e tirar os chefes do pedestal de rock stars em que são colocados, sem autorização prévia.
A música desta série documental foi composta por Rogério Oliveira, também ele dono do restaurante lisboeta Farta Brutos – que não entra na galeria dos distinguidos pelo guia francês, mas é conhecido por receber muitas personalidades da vida pública nacional, da cultura à política.
Mesa Portuguesa, Com Estrelas Com Certeza > RTP 1 > qua, 21h