“Como é que isto veio aqui parar?”, questiona-se Paula Moura Pinheiro sempre que chega a um lugar. E tanto pode estar a falar de um cálice, de uma pintura ou de uma catedral. O nosso país está cheio de “ideias inesperadas”. Para a jornalista, autora e apresentadora do programa Visita Guiada, Portugal pode não ter a arte italiana, francesa ou espanhola, mas tem outra singularidade: “A capacidade de misturar”. Destas “misturas improváveis” resultam objetos muito interessantes. “Basta ir à Sé de Braga”, exclama Paula, falando de um repositório de nove séculos de arte que se viu na estreia de Visita Guiada, há três anos. Depois de mais de cem visitas guiadas, Paula Moura Pinheiro não se cansa de dizer: “Os objetos falam, falam de outro tempo”.
A série de novos 13 episódios começou por uma visita ao Palácio da Bolsa, no Porto, guiada pelo eurodeputado Paulo Rangel. Seguiu-se o Bom Jesus de Braga, uma peça “nada benquista à esmagadora maioria dos historiadores de arte em Portugal e que, contudo, é icónica em todo o mundo cristão”, descreve. Só para esse programa, demoraram quatro meses até encontrar o dia certo para filmar este monte sagrado com o céu limpo e a luz ideal.
A jornalista tem sempre o cuidado de converter o conhecimento dos especialistas, que com ela vão caminhando e conversando, “numa narrativa que seja sedutora em televisão, sem perder o rigor”. Apaixonada por Portugal, Paula Moura Pinheiro gosta muito da abordagem que a História faz ao mundo e é isso que tenta transmitir a cada novo episódio. “O que me interessa na História de Arte é que os objetos falam. Falam do tempo que os produziu.” Nesta terceira temporada, o público será surpreendido com os animais, vegetais, minerais e desenhos de “uma beleza comovente” que estão no Museu de Ciência da Universidade de Coimbra. Trata- -se do espólio da viagem de Alexandre Rodrigues Ferreira ao Brasil, durante o século XVIII. “Todos os filmes de aventuras ficam aquém do que estas pessoas viveram durante nove anos de expedição na selva amazónica”, relata.
Mais do que um bordado, veremos também as Colchas de Castelo Branco (com uma coleção no museu Victoria & Albert, em Londres) como o testemunho da expansão portuguesa, mas adaptadas à pouca seda existente na Beira Interior. Também foram a Sintra, ao Palácio da Vila, e entraram diretos para a Sala dos Brasões, para perceber como a heráldica, essa linguagem misteriosa, está completamente ligada ao quotidiano: “Por trás de cada um daqueles símbolos há uma história que perdura até aos dias de hoje que ultrapassa a nobreza ou casas reais. Tudo aquilo fala.”
Há três anos, o magazine cultural Visita Guiada começava com um programa na Sé de Braga. Em três temporadas, contam-se já cem episódios passeando pela nossa História.
Visita Guiada > seg 23h, repetição ter 13h (com língua gestual) > na rádio Antena1, qua 00h10