1. Time Out Market e o regresso d’A Vida Portuguesa
Após seis anos de obras (e de algumas polémicas), o Time Out Market abria em maio na ala sul da Estação de São Bento, dez anos depois de o projeto ter nascido em Lisboa e se ter espalhado pelo mundo. Os antigos armazéns da estação ferroviária foram reabilitados pelo arquiteto Eduardo Souto de Moura para acolher 13 restaurantes, desde a cozinha tradicional à de chefes com Estrela Michelin (o japonês Tokkotai foi o último a abrir em outubro), acrescentando-lhe uma torre de ferro e vidro à qual ninguém fica indiferente.
Se no cimo da torre, a 21 metros de altura, a Sala de Prova com vista para os Clérigos oferece mais de uma centena de referências de vinhos do Porto, do Douro e verdes, além de uma carta de petiscos de Luís Américo, no rés-do-chão encontra-se A Vida Portuguesa, um feliz regresso ao Porto (tinha fechado em 2020). Apesar de menor do que a anterior, a loja de Catarina Portas é o canto mais genuinamente português da cidade – dos têxteis à cerâmica, das bolachas aos sabonetes, tudo conta uma história do nosso país. Pç. de Almeida Garrett, Porto > seg-dom 10h-24h
2. Tão Longe, Tão Perto
Os bares de vinhos e as garrafeiras já eram uma tendência na cidade, mas até ao último verão não havia nenhum com vinho a sair de uma torneira. É isso mesmo, leu bem. Em Vila Nova de Gaia, com uma vista soberba para o rio Douro e o casario do Porto, o argentino Ariel Kogan e o casal de brasileiros Carlos e Ana Carolina Chaves dão a beber vinhos de baixa intervenção de pequenos produtores portugueses a partir de seis torneiras ligadas a barris. O processo “sustentável” reduz o descarte de embalagens – cada colheita é servida num jarro (a partir de €3,50) e pode ser levada para casa em garrafas reutilizáveis. Os vinhos vão mudando mas, por ora, podem saborear-se os dos produtores Saravá e Pormenor (Douro), Textura Wines (Dão), Aparte Aprt3 (Lisboa e Setúbal) e, uma novidade, a sidra da Humus. No interior ou num balcão exterior, acompanham-se com queijos Serra da Estrela e enchidos alentejanos. Tchim, tchim! R. General Torres, 367, Vila Nova de Gaia > T. 91 412 4948 > qui-seg 17h-22h
3. Mosteiro de Leça do Balio
Há anos ao abandono, o mosteiro do século XIV ganhou nova vida desde junho, por altura do São João, quando reabriu requalificado por Siza Vieira. O arquiteto (Pritzker 1992) manteve a pedra original, deixando à vista as várias intervenções a que o edifício com vestígios românicos (residência de famílias após a extinção das ordens religiosas) foi sofrendo ao longo dos tempos. Adquirido em 2016 pelo grupo Lionesa, proprietário da Livraria Lello, o Mosteiro de Leça do Balio é agora um polo cultural aberto a visitas livres e guiadas. A primeira exposição, Act the Thought, com pensamentos e frases de 20 personalidades, alerta para a desinformação como ameaça global (patente até junho de 2025). Inspirado no Caminho de Santiago, no qual o Mosteiro está inserido, Siza Vieira concebeu ainda uma escultura aberta de betão branco (400 m²) em homenagem aos peregrinos, a que chamou O Templo. A segunda fase da reabilitação do Mosteiro de Leça do Balio há de incluir um jardim de quatro hectares, projetado pelo arquiteto paisagista Sidónio Pardal. R. do Mosteiro, Leça do Balio, Matosinhos > T. 91 650 2392 > seg-dom 10h-18h > visita ao mosteiro grátis, escultura de Siza Vieira €8, €4 (estudantes e mais de 65 anos), grátis (até 12 anos)
4. Bar Fiasco
As paredes em tons de vermelho e os néons chamam a atenção a quem passa pelo Bonfim. O Fiasco é muito mais do que um bar aonde se vai beber uma cerveja, um cocktail ou um copo de vinho, e dar dois dedos de conversa. É também uma loja de discos com muitos vinis – novos e usados, desde jazz a eletrónica, hip hop, pop ou indie, dispostos em várias prateleiras – da editora 8mm Records, do italiano Luca Massolin; um restaurante de cozinha do mundo (o Urraca, com curadoria do Mafalda’s) e uma galeria de arte (a Branda), na cave, que promove o trabalho de jovens artistas. “O nome Fiasco é um statement, uma ironia, de que é bom não te levares demasiado a sério”, explicava-nos em março, aquando da abertura, Pedro Segurado, um dos sócios deste lugar que nada tem que ver com o significado da palavra. Bem pelo contrário. Com DJ às sextas e aos sábados a partir das 20h, é um bar para todas as horas e públicos que veio romper com o mainstream – a seleção musical pode ouvir-se no Spotify. Av. Rodrigues de Freitas, 133, Porto > T. 92 591 0842 > ter-sáb 12h-24h
5. Palacete Severo
Dentre os (inúmeros) hotéis que abrem todos os anos na cidade, há alguns que marcam pela diferença. É o caso do Palacete Severo, projeto que renovou a casa onde viveu o arquiteto, engenheiro, escritor e arqueólogo Ricardo Severo (1869-1940) com a mulher, Francisca Dumont, mandada construir em 1920. Além de ser um boutique hotel, trouxe ainda de volta ao Porto a cozinha de Tiago Bonito (esteve seis anos na Casa da Calçada Relais & Chateaux, onde chefiava o restaurante Largo do Paço, em Amarante). Natural de Carapinheira, Montemor-o-Velho, o chefe assume agora o Bistrô Severo (à carta), num bonito pátio interior, e o Éon (menu de degustação), ambos de cozinha portuguesa. Rodeado por um jardim centenário, o Palacete Severo foi recuperado à luz da contemporaneidade, sem lhe retirar a História – vejam-se as madeiras, os vitrais, os tetos de gesso ou os lambris recuperados. A decoração de interiores de Paulo Lobo segue a mesma narrativa, desde as áreas comuns aos 21 quartos que se prolongam para um edifício novo nas traseiras. R. Ricardo Severo, 21, Porto > T. 22 967 7000 > Bistrô Severo > seg-dom 7h30-10h30, 12h30-15h, 19h30-22h30 > Éon > qui-dom 19h-21h > quartos desde €350
6. Restaurantes do mundo
O Porto (tal como o País) é cada vez mais uma aldeia global. Na cidade, multiplicam-se os restaurantes de diferentes latitudes, a levarem em viagem as nossas papilas gustativas. No Hoje, Kimbap, no Bonfim, o casal coreano Yi Ryounj Jung e Don Wan Choo serve o tradicional kimbap (arroz cozido enrolado em algas secas, com porco frito, carne bovina, queijo, legumes ou atum). Em Cedofeita, o bistrot Nani (“avó”, em arménio) tem dado a provar a região do Cáucaso, Arménia e Geórgia, num menu (sem peixe) para comer à mão, de que são exemplo o khachapuri, um pão em forma de barco que se mergulha em queijos derretidos da Geórgia e em ovo cru, e o khinkali, uma versão georgiana de dumpling. Desde as últimas semanas deste ano que o Out of Lunch Kitchen serve o Japão em plena Rua da Restauração e, na Boavista, o novo Calico promete levar-nos até à Índia, ao Brasil e ao Médio Oriente. Sabores do mundo cada vez mais perto. Hoje, Kimbap, R. do Bonfim, 107 > Nani Bistrot, R. da Torrinha, 86A > Out of Lunch Kitchen, R. da Restauração, 313 > Calico, R. da Meditação, 70, Porto
7. Piano para todos
Quem teve a sorte de viajar por cidades europeias, provavelmente já se cruzou com um piano público à disposição de quem nele queira tocar, seja um pianista amador ou um aspirante a Mozart ou Chopin. Sim, eles existem nas estações de metro Manchester Piccadilly (em Londres), Glasglow Center (na Escócia) ou na Gare d’Austerlitz (em Paris). No Porto, desde abril passado, muitos têm sido aqueles que já abrandaram o ritmo só para ouvir tocar quem se senta no piano público no piso -1 da estação de metro da Trindade, uma iniciativa da empresa Critical Software. A escolha não foi aleatória: trata-se da estação que acolhe o maior fluxo de pessoas de toda a rede da Metro do Porto (mais de 100 mil pessoas por dia). “Este piano é para ti. Senta-te, sente o teu ritmo, dá-lhe vida, mostra-o ao mundo”, pode ler-se num painel vermelho. E eles e elas sentam-se, sem vergonha nem medo de desafinar. Tocam de tudo, desde Ornatos Violeta a Miles Davis ou Haydn. Entre viagens, as pessoas estacam, aplaudem e prosseguem o dia com outro ânimo. “As estações são espaços por onde passa muita gente, de todas as idades e estratos sociais. Queríamos tocar a fundo em toda a comunidade”, justificava na altura à VISÃO João Carreira, CEO e cofundador desta tecnológica, que já tinha disponibilizado um piano na estação de Entrecampos, em Lisboa. Coimbra, a cidade-sede da Critical Software, deverá ser a próxima a receber este instrumento à disposição de todos. Haja música. Estação da Trindade, Porto > seg-dom 6h-1h