“Não podemos esquecer-nos de que temos de ser cidadãos, antes de tudo, com direitos e deveres, independentemente do sistema que escolhamos para nos organizarmos enquanto sociedade”, diz Catarina Romão Gonçalves, chefe da Divisão Museológica e para a Cidadania da Assembleia da República, logo no início da visita à Casa do Parlamento – Centro Interpretativo. Por esta altura, o dedo indicador já havia tocado numa série de ícones que se mostravam nos primeiros ecrãs interativos deste novo equipamento cultural instalado no edifício pintado de amarelo-torrado, na Rua de São Bento, em Lisboa.
O projeto partiu de uma ideia do ex-presidente da Assembleia da República (AR) Eduardo Ferro Rodrigues, conta José Manuel Araújo, diretor de Informação e Cultura da AR. A Casa do Parlamento abriu este ano, no passado dia 25 de abril, sete anos depois do desafio lançado pelo político. São quatro pisos, cada um com um tema – Cidadania, Parlamento, Democracia e Memória –, onde se aprendem conceitos muitas vezes difíceis de explicar e de simplificar. Como funciona o sistema político português, o papel da Assembleia da República, quais são os órgãos de soberania e quem são os deputados, estas são algumas das questões a que se dá resposta com recurso a tecnologia e muita interatividade.
Aprendidos os conceitos do piso inicial dedicado à Cidadania, seguimos de elevador diretamente para a Democracia, no quarto andar, a forma correta de fazer o circuito expositivo. A Constituição da República Portuguesa de 1976 ganha protagonismo. Numa vitrina expõe-se um fac-símile e, ao lado, uma edição digital para descobrir os seus 312 artigos. Mais à frente, dois circuitos ativados com o toque num botão explicam os quatro órgãos de soberania e as várias etapas da lei, simplificando o processo legislativo. Os círculos eleitorais também estão representados, mas os cartazes das campanhas eleitorais, projetados num grande ecrã em semicírculo, e o quiz chamam-nos a atenção.
Ninguém fica indiferente à chegada ao piso três, referem-nos os responsáveis pela nossa visita. É altura de apresentar o Parlamento e vestir a pele de um deputado. Invariavelmente, a missão causa burburinho na sala, seja qual foi a idade do visitante – e já passaram por aqui alguns ilustres, caso da presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola. “Os deputados olham para o Centro Interpretativo também como um espaço para falar sobre a sua atividade. A Assembleia está a virar-se para fora, a reconstruir aquilo que é a relação com o cidadão e com a democracia, atenta aos níveis de abstenção”, sublinha José Manuel Araújo.
Em 230 tablets apresentam-se os 230 deputados eleitos, com fotografia, e noutros dois ecrãs, dados relativos à representatividade, ao género, à profissão ou a que comissão parlamentar pertencem. “É muito interessante perceber como os diferentes públicos interagem”, destaca Catarina Romão Gonçalves. Ainda no piso três, somos convidados a fazer parte de uma audição, sentados na sala de comissões, e a fazer um discurso no plenário, de improviso ou lendo os apresentados, como o de Sophia de Mello Breyner na Assembleia Constituinte de 1975, em celebração e defesa da Revolução de 25 de Abril de 1974.
A visita está quase a terminar com a chegada ao piso da Memória. Para não revelarmos tudo, dizemos apenas que aqui se encontram alguns dos mais famosos duelos parlamentares entre deputados. “Convidámos os Artistas Unidos a dramatizar os textos reais e apresentamo-los em ecrãs. Vale a pena ficar a vê-los”, conta, entusiasmada, Catarina Romão Gonçalves. E não é que ficámos mesmo?
Casa do Parlamento – Centro Interpretativo > R. de São Bento, 148, Lisboa > T. 21 391 9414 > seg-sáb 10h-17h > grátis